Dizemos tudo… Menos a verdade!
Ainda nos falta ser honestos. Ainda nos falta dizer as verdades que nos trazem à tona os pedaços mais perdidos de nós. Ainda nos faltam as palavras para dizer o mais importante. Ainda nos faltam ouvidos para guardar o que vale a pena tornar memória. Somos mentirosos por preguiça. Dizer a verdade dá algum trabalho e exige esforço. Não é para todos. Nem mesmo para os mais fortes. Nem mesmo para os mais corajosos. Dizer a verdade é para os atrevidos. Para os que preferem arriscar tudo em vez de viver à sombra do que nunca foi certo e do que nunca existiu. Não existem tipos de verdades. Existem, sim, tipos de mentira. Tipos de disfarce. Formas de escapar.
Aprendemos, desde cedo, a evitar o que nos assusta. O que nos acelera o coração a ponto de o fazer latejar por todas as partes do corpo. Fugimos do medo como da fome e da sede. Pois é. A verdade pode assustar. Pode desarrumar a ponto de deixar tudo fora do sítio. Mas a única forma de ser honesto é preferir a verdade a qualquer outra coisa. Viver com menos do que a verdade é viver com muito pouco.
Assim, alguém me explica o que nos impede de dizer aos outros o que nos fazem sentir (com as letras todas)? O que me obrigará a fingir um sorriso quando o meu coração amuou ou se encolheu de dor? O que me levará a preferir dizer que estou bem quando estou mal? O que me fará garantir que vou ser sincero e, depois, pousar flores falsas em vez de terra seca?
Talvez o que nos impeça de dizer a verdade seja o mesmo que nos impede de ser genuinamente bons. De viver de uma bondade que sossega e sustenta tudo. Impede-nos a cobardia de viver de acordo com aquilo que pensamos e sentimos. Impede-nos a perigosa vontade de agradar para, mais tarde, poder ser aclamado em braços. Deixemo-nos de enganos. Os que não se contentarem com a nossa verdade também não serão dignos do nosso amor.