Onde está o teu tesouro?

Crónicas 21 março 2018  •  Tempo de Leitura: 3

Não tenho o que preciso. Tenho muitas coisas mas nenhuma delas me parece encaixar naquilo que preciso realmente.

 

Não me apaixona a vida que vivo. Gosto de muitas das pessoas que conheço mas não me sinto capaz de as amar ou de as colocar em primeiro lugar. Antes de mim, estou eu.

 

Não me chegam os momentos que os dias me oferecem. Há uma luz qualquer que se apagou e o meu coração não brilha tanto como antes.

 

Não me arrebatam as experiências que vivo e estou sempre à espera daquela que vai mudar a minha vida para sempre.

 

Não me bastam as ausências de tristezas. O que eu gostava mesmo era de ser alegre. Gostava daquela alegria que nos faz arder por dentro a ponto de conseguir evaporar qualquer tempestade ou chuva persistente.

 

Não me chega a minha fé. Queria aquela fé dos que não duvidam nem hesitam. Dos que vão chegar longe só pela força de acreditar.

 

Falta-nos tanto que quase parece que nos falta tudo. Estamos à espera de grandes revelações e de grandes luzes e, por isso, estamos impedidos de ver os pequenos brilhos que os dias nos dão. Não nos sobra tempo livre mas inunda-nos a sensação de não ter vivido nada. Parece-nos que o que já passou foi tempo perdido. Não aprendemos nada. Não valorizamos nada. É mais fácil pedir que oferecer. É mais fácil exigir que reconhecer. É mais fácil cortar do que fazer nascer. Julgo que a angústia de andar à procura de qualquer tesouro sem nome faz parte de cada um de nós. Para alguns de nós, o tesouro é conseguir perdoar. Para outros, o tesouro será ser perdoado. Não somos feitos das mesmas paixões. E ainda bem. Não seria possível viver em paz. Talvez seja essa a razão de algumas guerras. Uma busca por um tesouro que, sendo de todos, não pertence a ninguém. Há quem só encontre o seu tesouro nos últimos dias da sua vida e há quem o tenha a viver dentro de si desde sempre. Não somos todos iguais. Não brilhamos todos à sombra da mesma luz. E ainda bem.  

 

Procurar o teu tesouro vai levar tempo. Reconhecer o teu tesouro vai demorar ainda mais. Mas não te esqueças: se o teu tesouro apagar a luz de alguém… não o queiras. Não é o tesouro certo.

 

Mais uma nota: há possibilidade de não encontrares o teu tesouro. Se isso acontecer, não te preocupes – o teu tesouro vai, de certeza, encontrar-te a ti.

 

“Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração”

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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