A fé de uma vida

Crónicas 6 julho 2018  •  Tempo de Leitura: 3

Entrou pela primeira vez na Igreja com 9 meses sem precisar de ajuda para chegar junto do altar. Levava consigo a genica da sua idade e um verdadeiro "galo" na sua testa. Com aquela idade não dava para ficar parado. Ele bem sabia que havia muito para descobrir e para explorar. Havia muitos caminhos para procurar pelo seu pai. 


De passo em passo caminhou calmamente. Chegou então ao altar para, com a permissão dos seus pais, receber em si o Espírito Santo.


Eis que colocaram sobre a sua cabeça a água bendita. E nesse preciso momento esperneou e chorou. Dizem, os que por lá estavam, que foi de tamanha alegria por ter recebido em si o dom da fé. 


Foi deixada a semente no seu coração. O sinal da cruz foi ungido no seu peito para que a partir daquele momento escutasse a palavra do Senhor com todo o seu ser. 


O dom ficou e as visitas à casa do Senhor tornaram-se rotina. Cativavam-lhe os "bonecos" que se encontravam na Igreja. Cativava-lhe o silêncio e o mistério da genuflexão perante o sacrário. Cativavam-lhe os segredos ditos em cada oração. Cativava-lhe o consolo dado por um Pai que recebe todos os filhos de braços abertos. Cativava-lhe o olhar calmo dos senhores e das senhoras de mais idade. 


Foi crescendo em estatura e apreciando a sabedoria do menino Jesus. Foi crescendo e com o passar do tempo o afastamento foi surgindo. A formação catequética já tinha sido completada. Faltava apenas a confirmação de uma fé que não tinha bases para se alicerçar. 


Mas o "respiro de Deus" trabalhou sobre ele para que a sua fé fosse afirmada diante de todos. De novo recebia o santo óleo para que fosse ungido, desta vez, na fronte. E naquele momento...naquele momento arrepiou-se. Sentiu em si o verdadeiro "arrepio divino". Sentiu em si a presença reconfortante do Pai que não perde uma única oportunidade para abraçar o Seu mais que tudo. 


Vivia então renovado, mas não estava conformado. Afinal a vida oferecia-lhe outras distrações, outras oportunidades mais aliciantes.


Não sabia é que a vida voltaria a virar-lhe do avesso. Tirando-lhe o que mais gostava obrigou-o a questionar-se. Obrigou-o a virar-se para Aquele que nunca lhe tinha virado as costas. E, numa altura em que sentia dentro de si raiva e tristeza, encontrou no Senhor o sentido de uma vida. 


As suas verdadeiras moletas eram as espirituais. As suas moletas eram as conversas incessantes com o seu Senhor. As suas moletas eram as palavras do Seu Jesus. As suas moletas eram a procura de uma fé alicerçada na confiança e nas dúvidas. 


E, a partir da semente, brotou o fruto. Um fruto maduro...


Hoje a sua fé não é a moleta. Hoje a sua fé é uma forma de ser e de estar. Hoje é a fé de uma vida. 


Hoje a sua fé é a prova mais fiel de que ele é realmente um filho muito amado!

Nasceu em 1994. Mestre em Psicologia da Educação e do Desenvolvimento Humano. Psicólogo no Gabinete de Atendimento e Apoio ao Estudante e Coordenador da Pastoral Universitária da Escola Superior de Saúde de Santa Maria. Autor da página ©️Pray to Love, onde desbrava um caminho de encontro consigo mesmo, com o outro e com Deus.

 

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail