Não nos chega tudo o que temos. Somos bons a pedir mais, a querer mais, a sonhar mais. Não nos chega o que já alcançámos, o que já é nosso e o que construímos. Não nos chegam os planos já cumpridos, os sonhos já realizados e as preces já ouvidas. Não nos chegam as vezes em que o mundo se lembra de ser bondoso connosco e não nos chega que Deus nos guarde de tantas peripécias menos felizes e de tantos sofrimentos. As palavras que dançam na nossa boca são sempre de queixa e têm sempre o tom de quem reclama. Somos astutos na forma como cobramos ao Céu todas as coisas que se esqueceu de nos dar. Enchemos o coração de argumentos bem pensados que, depois, usamos para justificar os nossos pedidos sempre insatisfeitos. Sempre incompletos.

Somos felizes apenas durante o tempo em que acalentamos a esperança da prece concedida. Do que vamos receber, do que nos vão dar. E que injusto se torna o mundo quando não nos devolve na medida do nosso pedido. Pode ser lamentável perceber que nada nos será devolvido na medida do que não dermos. Nada nos será dado na medida do nosso pedido mas sim na medida da nossa bondade. Na medida do muito que colocamos nas mãos dos outros, ainda que não nos sobre muito nas nossas. Parece ridículo, não é? Parece estranho e pouco real. Parece ingénuo e pouco concreto. Até pode ser. Mas não seremos, nós, peritos em pedir demais? Peritos em pouco fazer? Peritos nas desculpas para fazer menos ainda? Somos. Somos mesmo e nem sempre nos sobra tempo para ter consciência disso. Devíamos saber pedir. Pedir como quem espera e não como quem dá uma ordem ao Céu, a Deus, ao Universo, aos outros, à vida. Pedir como quem sabe que talvez não receba nunca o que pediu. Pedir como quem sabe que nem tudo pode ser como se imagina e se quer.

E se, em vez de pedir, soubéssemos agradecer?

Talvez a ordem seja outra. Agradecer como quem pede em vez de pedir para depois agradecer. Talvez a diferença esteja aí. Na perspetiva. Na forma como se olha. Na forma como nos colocamos perante o que nos acontece. Talvez faça sentido:

Agradecer o que aconteceu.

Agradecer o que não foi tão bom e me fez aprender mais.

Agradecer os que partiram porque, em tempos, puderam estar presentes.

Agradecer os que chegaram porque, um dia, podem partir.

Agradecer a paz de todos os dias.

Falta-nos pedir a coragem para saber agradecer. Sempre.