Não quero ser um papagaio, Senhor!
Na semana passada fui à missa no Domingo de manhã. Sim, é verdade, aqui o jovem vai à missa. E, como de costume, cheguei uns bons minutos antes da Eucaristia começar para estar em silêncio e preparar-me para o que o Senhor me tinha a dizer. Naquela oração inicial reparei que estava diferente. Estava demasiado acelerado e tremendamente falador. Estava a soltar um sem-número de palavras. Todas elas seguidas, umas atrás das outras, quase sem pausa. Pedia e agradecia. Voltava a pedir e voltava a agradecer (mania esta de pedir primeiro antes de agradecer).
E, de repente, parei e lembrei-me das palavras do nosso querido Papa Francisco: "Penso em tantos cristãos que creem que rezar é falar a Deus como um papagaio.".
Foi então que parei e ri-me (disfarçadamente para que as velhinhas e os velhinhos não levantassem logo aquela sobrancelha em sinal de reprovação). E não mais proferi uma palavra no meu pensamento. Sentei-me, dirigi o meu olhar para o crucifixo e simplesmente fiquei. E entendi, de novo, o poder da oração. Percebi que a oração pode ser mais saudável se eu não despejar um conjunto de palavras aleatórias.
Com Deus não é preciso criar conversa, porque a nossa presença diante d'Ele é a nossa melhor conversa. Com Deus não é preciso criar clima, porque entregando o nosso coração está tudo mais do que preparado. Com Deus não é preciso nada mais do que uma presença assinalada pela entrega de um coração humilde, simples e arrependido.
A oração é muito mais profunda, sincera e desafiadora se a fizermos com o coração e em silêncio do que se a preenchermos cheia de palavras que, muitas das vezes, saem vazias por causa do nosso tão grande vazio.
Não tenhamos medo de enfrentar o silêncio (pode-nos confrontar, mas nesta auto confrontação iremos descobrirmo-nos e descobriremos também a Sua Luz). Não tenhamos problemas em não sabermos quais as melhores palavras para Lhe dirigirmos. Não entremos em pânico se a nossa oração não for bonita, porque ela só tem de ser sincera. Só tem de refletir aquilo que somos verdadeiramente.
A oração serve para reconhecermos a nossa fragilidade diante d'Ele (e isto não nos deve entristecer ou levar-nos à depressão, deve, antes de mais, direcionar-nos a uma entrega plena e cheia de sentido) e serve, acima de tudo, para demonstrarmos que necessitamos da Sua presença em tudo o que somos e fazemos.
A oração é momento de relação. A oração é momento de nos deixarmos ficar nos braços do Pai. A oração é altura ideal para Lhe pedirmos: "Senhor, diante de Ti, eu não quero mais ser um papagaio!". E terminarmos, assim, a oração com um sorriso no rosto com a certeza de que o nosso Deus também ri e sorri connosco e para nós!