Falta-nos ser leves!

Crónicas 3 julho 2019  •  Tempo de Leitura: 1

Parece-me que a leveza está, como tantas outras coisas, em vias de extinção. Falta-nos a capacidade de deixar cair o que nos pesa. O que nos deixa de sobrolho franzido e o que nos faz engelhar a testa. Temos a tendência para ir procurar a pior versão de cada um, de cada acontecimento, de cada dia.

 

Falta-nos a leveza de não querer saber para onde vamos a seguir. Falta-nos a humildade do sorriso que não tem medo do que pode estar guardado atrás desta ou daquela porta. Falta-nos a coragem para não estar à defesa e para não estar, permanentemente, em estado de guerra eminente.

 

Parece-me que a leveza está magra de não se usar. Estamos todos gordos de pessimismo, de corrupção, de maledicência e de notícias tenebrosas. Deixamos a leveza de lado e esquecemo-nos de lhe dar de comer e de beber. Fomos, e somos, cada vez mais ingratos. Pedimos que os dias sejam mais leves, mas damos-lhes o peso da última vez. Pedimos que as pessoas sejam brandas, mas não abrandamos na forma como teimamos em passar por cima seja de quem for. Pedimos que seja Verão, mas há lama de chuvas antigas a fazer-nos envelhecer por dentro.

 

Falta-nos ser leves. Leves como quem quer ser feito de voos e não de aterragens.

Leves como quem é feito de nuvens brancas que nunca ficam.

Leves como quem se deixa atravessar pela brisa que o mar quer trazer.

Leves como a espuma que fica depois das ondas.

Leves como quem não tem medo do que já passou, do que há e do que há-de vir.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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