"Ser mãe é ser capaz de conciliar os sentimentos mais contraditórios."

Nunca tive medo de andar de avião. Gosto de aeroportos, de passar os controlos de segurança, dos bilhetes e cartão de cidadão na mão. Gosto ainda mais da ideia de viajar, mesmo que para sítios conhecidos. E fico sempre deslumbrada com a possibilidade de tirar os pés da Terra. Foi sempre assim, até ser mãe.
 
A Sofia nasceu, e houve pouca coisa que tivesse ficado igual. De um dia para o outro, passei a ter medos que nunca antes tinha sentido. Como o medo de andar de avião. Mas, ao mesmo tempo, nasceu em mim uma segurança imensa, e desapareceram medos e receios. E percebi coisas que antes eram mistério.
 
Antes de a Sofia nascer, as preocupações eram muitas. Casar e ter filhos em época de crise e austeridade são sinais de loucura já instalada ou pelo menos iminente, toda a gente sabe. As angústias com o amanhã marcaram boa parte da gravidez: e quando o contrato terminar? E se acontecer alguma coisa ao emprego dele? E se eu não souber ser mãe? E se não sentir nada pela bebé?
 
Na noite em que a Sofia nasceu, não consegui dormir. Fiquei uma noite inteira a olhar para aquele pequenino ser de pouco mais de 3 quilos, toda ela perfeita e inteira, a dormir sem preocupações. Lembro-me de ter agradecido a Deus o milagre da vida, mas de estar preocupada, a pensar no resto dos nossos dias.
 
Hoje, cerca de dois anos depois, tenho um agradecimento diferente: com a Sofia, foi-me revelado o futuro. Em Mateus, há uns versículos sobre as pre-ocupações da nossa mente. Pensamos sobre o que vamos vestir, o que vamos comer, esquecendo que o Pai sabe disso tudo, e está connosco. Havia uma parte que era particularmente incompreensível para mim: “Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal”. Os filhos ensinam-nos isso mesmo: um dia de cada vez. Hoje choram, hoje sorriem para nós pela primeira vez, hoje têm febre, hoje comem sopa,  hoje, num momento inesperado, dizem mãe ou pai a olhar-nos fixamente. Hoje, hoje.
 
Ser mãe é ser capaz de conciliar os sentimentos mais contraditórios. Nunca tinha tido medo de andar de avião, e agora tremo ao ir para o aeroporto. Mas tive sempre um medo imenso do futuro, e agora sei que o meu futuro está em todos os dias.
 
© Testemunho de Ana Margarida Craveiro. Lisboa

 

Ps: Com este magnifico texto de Ana Margarida Craveiro chegamos ao fim. Foram 35 testemunhos. 31 dias. 4 continentes detestemunhos. 2 sentimentos: partilha e ternura. 1 mês. Uma palavra: MÃE. 

Em nome de toda a equipa iMissio o nosso sincero obrigado. 

 

 

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