Alguma coisa não vai correr bem; nalgum momento cairei com estrondo; virá a situação em que passarei a vergonha da minha vida. Todos sabemos que isto aconteceu e há de acontecer mas podemos estar a vivê-lo mal, com medo, angústia, ansiedade. Podemos estar a carregar o passado ou a olhar o amanhã com um aperto no estômago, com a corda na garganta, com uma bigorna por cima da nossa cabeça. Então, o que fazer? Se assimilarmos o princípio universal de que "herrar é umano", ele poderá converter-se num polo aglutinador de humildade e descanso. A boa notícia é que podemos conquistar a paz acolhendo e antecipando as situações e preparando o coração para o que acontecer.
Felizes os que perdem o medo aos erros que cometeram ou cometerão, porque:
- terão sempre uma saída;
- poderão sempre pedir desculpa - aos outros e a si mesmos;
- poderão sempre [tentar] repor o mal feito;
- poderão sempre pedir ajuda;
- estarão a libertar-se da falsa imagem que têm de si próprios;
- aprenderão imenso.
O verdadeiro problema é que tudo isso faz muito mal ao orgulho. Às vezes dói como o raio. E o orgulho ferido é um animal difícil de domar. Através da nossa auto-imagem ele quer sempre enganar-nos e sugere-nos tudo o que seja necessário para que não sejamos desmascarados na nossa fragilidade e insuficiência. Então deparamo-nos com um dilema: ou escolhemos o ego, com a sua carapaça de orgulho e a auto-imagem que nos propõe; ou escolhemos a humildade e a paz. Penso que não há outro caminho. No fim de contas, aceitar o erro é a atitude normal de quem sabe que nalguma coisa há-de falhar, de quem sabe que não é perfeito no modo em que habitualmente entendemos a perfeição. Estarmos preparados para os erros que cometamos dá uma tranquilidade impagável diante da vida porque, na verdade, a perfeição é termos a certeza de que iremos errar e poderemos errar com perfeição, ou seja, na atitude certa. E isso é muito bom. Por isso é que herrar é umano.
[Texto de ©João Delicado, http://verparalemdolhar.blogspot.pt
Imagem: tshirtsandall.pt]