Esta pequena crónica parte de uma simples premissa, talvez um pouco banal, mas importante: Eu como a maior parte de vocês, estou dilacerado com tudo aquilo que sucedeu em Paris, nos últimos dias...

Mas a minha tristeza, perde-se nos meses e nos anos que passam, enquanto milhares de pessoas continuam a ser mortas por não concordarem com uma interpretação "correta" do Corão. Mulheres, crianças, jovens, homens, mortos, exterminados, porque cristãos, muçulmanos... Se estivermos atentos, deparamo-nos com esta realidade no Paquistão, Afeganistão, Iémen, na Nigéria...  Não preciso do slogan "Je Suis Charlie" para condenar toda esta violência. Honestamente, parece que a Europa "só acorda" quando o sangue é derramado na sua terra...

Enquanto na Europa e um pouco por todo o mundo, dito de cultura ocidental, gritavam "Je Suis Charlie", o grupo terrorista e fundamentalista Boko Haram, dizimava centenas e centenas de mulheres, crianças e homens em Baga, no nordeste da Nigéria. A BBC, inicialmente, falava em 2000 mortes. O Libération, escrevia ontem, que este, talvez fosse o pior massacre cometido por este grupo. Os terroristas queimaram literalmente a cidade! Ao longo do último ano, mais de 20 mil nigerianos perderam a vida às mão deste grupo.

Onde estão os dirigentes africanos que, ainda no passado domingo, estavam em Paris? Vimos os presidentes do Benim, do Gabão, do Mali e do Níger... E as consequências ou estratégias tomadas na cimeira, que aconteceu em Maio passado com o mesmo François Hollande em virtude do sequestro das 200 raparigas estudantes? Os presidentes do Benim e do Níger, também fizeram parte dela...

Como isto acontece fora da Europa, não "abre telejornais", não é "capa de jornais" nem mobiliza as pessoas para "grandes manifestações de rua"...

Mas a vida, a liberdade não é a mesma para todos e em toda a parte???

Por esta razão é que hoje apetece-me gritar: "Je Suis Nigerian".