Passo a passo, a fé tomará cada vez mais espaço e tempo.
O percurso da vida não é linear. Há momentos em que me sinto perdido, na oração, nas decisões, no aceitar da realidade que me transborda. Apesar de custar, estes momentos recordam que não sou super-herói. E o incrível é que nem sequer sou chamado a isso. Quando se vive numa cidade grande e se vê as pessoas a correr, num acto de desespero, para apanhar o metro, quando vem outro apenas dois minutos depois, surge o pensamento sobre a ansiedade que circula pelo ar. Estamos em tempos que o tempo passa muito rápido e nada se pode perder, tendo de se viver tudo.
Sempre que possível, tento não deixar que seja o mundo ou os afazeres que me comandem, mas a minha decisão de parar. Não, não é fácil, tenho essa consciência. Não se pode “mandar o trabalho ‘às malvas’”, nem deixar as responsabilidades comprometidas estagnadas devido a caprichos. No entanto, saber relativizar, ou seja, pôr as coisas no seu devido lugar, é necessário para saborear o profundo da vida: mimar-me e mimar os que me são próximos. Ter a coragem de parar, mais que não seja 5 minutos para deliciar-se com a música que tanto se gosta, não é capricho. Percebe-se que a esses 5 minutos, não necessariamente seguidos, pode-se juntar outros 5 para dizer a Deus, com simplicidade: “Agradeço-te o tempo. Ajuda-me a parar e a ser, para entregar-me plenamente!”
Passo a passo, a fé tomará cada vez mais espaço e tempo. A fé encarnada, entenda-se. E assim, faz-se da Quaresma oportunidade de encontro: quando surja a sensação de se estar perdido(a), que prevaleça a certeza de que se é acompanhado(a).
[Foto: Elliot Erwitt]