Silêncio… em Semana Santa

Esta Semana faz-me sempre viver especial silêncio. Não é o silêncio de estar calado. Ainda há reuniões, conversas, preparações de Tríduo Pascal. Não é o silêncio de nada ouvir. As palavras e os gestos falam em cada dia desta Semana. É aquele silêncio habitado pela densidade dos acontecimentos que levam à passagem da morte à vida. Não é “apenas” Cristo que se entrega, é o actualizar da Paixão por esse mundo fora, em injustiças, em histórias mal contadas, em perseguições, em violência gratuita, em humilhações de tantos homens, mulheres e crianças. O silêncio desta semana faz reviver gritos de quem não tem voz, de pessoas abandonadas na sua existência porque são diferentes do que se estabelece como normal. O que é o normal? Ou melhor, o que é a verdade? Pergunta que ecoa… tendo silêncio como resposta.
 
Perde-se tempo. Perde-se o tempo. Com acessórios ruidosos, tentando justificar a força do desamor. Há que ler e reler o Evangelho, como ampliação das 24 horas mais explicadas da vida de Jesus. Percebo o desconforto. Afinal, também O condeno por ser tão autêntico, por não desejar combater o mal com igual mal. Percebe-se que escândalo da cruz não é a cruz, mas o rasgar de tudo o que impeça ver Deus face-a-face. Esse olhar, que comoveu Pedro negador, ilumina cada recanto do ser e amplia o horizonte de mim mesmo, criatura sempre amada. Só diante dessa luz abraço a possibilidade de renovar-me e ser participante desse caminho de Paz. É preciso silêncio para escutar a entrega do Espírito. Ninguém fica de fora. E o mundo continua nas dores de parto. Em caminho para a grande passagem.

 

[Foto: Joe Leung]

 

Paulo Duarte, sj

Cronista

É em caminho. Nesses passos vai procurando e encontrando o Ser Humano. Às vezes perde-se. Tem dificuldade com as definições, pelo perigo de poderem ser demasiado redutoras. Já como jesuíta, licenciou-se em Filosofia (Braga) e em Teologia (Madrid), foi professor e começou a ter aulas de dança (mais em linha contemporânea). Continua em estudos (será que algum dia deixará de aprender?), mais precisamente no mestrado em Teologia Fundamental (Paris). Tem interesse no diálogo, mais precisamente entre a fé e a cultura e que as pessoas sejam. A partir de Julho 2014, além de tentar ser um bom diácono, tentará ser um bom padre. 

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