Levem os vossos filhos ao parque para brincar depois da missa, pede papa aos pais
O papa propôs este sábado alguns conselhos práticos para os pais educarem as suas crianças na fé e sugeriu-lhes um filme, durante o encontro com jovens crismados que decorreu em Milão, no estádio San Siro, perante cerca de 80 mil pessoas.
«Em vários lugares, muitas famílias têm uma tradição muito bela que é irem juntos à missa e depois vão a um parque, levam os filhos a brincar juntos. De maneira que a fé se torna uma exigência da família com outras famílias, com os amigos, famílias amigas. Isto é belo e ajuda a viver o mandamento de santificar as festas», afirmou Francisco.
Respondendo à pergunta de dois pais, o papa sublinhou que para os católicos não se trata «só de ir à igreja para rezar ou a dormir durante a homilia - acontece! -, mas depois ir brincar juntos», o que na Argentina, país natal de Francisco, se chama «"dominguear", passar o domingo juntos».
«Mas o nosso tempo é um pouco mau para fazer isto, porque muitos pais, para dar de comer à família, têm de trabalhar também nos dias festivos. E isto é mau. Eu pergunto sempre aos pais, quando me dizem que perdem a paciência com os filhos, pergunto primeiro: "Quantos são?". "Três, quatro", dizem-me. E faço-lhes uma segunda pergunta: "Tu brincas com os teus filhos? Brincas?". E não sabem o que responder», assinalou.
Para Francisco, muitos pais «não podem ou perderam o hábito de brincar com os filhos, de "perder tempo", com os filhos»: «Um pai disse-me uma vez: "Padre, quando eu saio para ir para o trabalho, eles ainda estão na cama, e quando volto à noite já estão na cama. Só os vejo nos dias festivos". É mau. É esta vida que nos tira a humanidade».
«Tende isto presente: brincar com os filhos, "perder tempo" com os filhos, é também transmitir a fé. É a gratuidade, a gratuidade de Deus», frisou o papa, que antes tinha convidado as dezenas de milhares de pais, jovens e crianças presentes no estádio a recordarem as pessoas e as situações que os tinham marcado no percurso cristão.
Depois de referir que, no seu caso, se recorda do padre italiano que o batizou e que o acompanhou ao longo da infância e da juventude, até à entrada no noviciado dos Jesuítas - sacerdote oriundo da região da Lombardia, de que Milão é a capital, o que suscitou aplausos da multidão -, Francisco acentuou que os filhos estão muito atentos aos pais, mais do que por vezes eles imaginam.
«Os nossos filhos observam-nos continuamente; mesmo que não nos dêmos conta, eles observam-nos todo o tempo e entretanto aprendem», sublinhou o papa, que logo a seguir se referiu ao filme "I bambini ci guardano" (As crianças observam-nos), realizado e estreado na primeira década de 40 pelo cineasta italiano Vittorio De Sica, e que em português foi traduzido por "A culpa dos pais".
Francisco abriu um parêntesis para afirmar que os «filmes italianos do pós-guerra e um pouco depois foram, geralmente, uma verdadeira "catequese" de humanidade».
«As crianças observam-nos, e vós não imaginais a angústia que sente uma criança quando os pais discutem. Sofrem! E quando os pais se separam, são elas que pagam a conta. Quando se traz um filho ao mundo, deve ter-se consciência disto: nós assumimos a responsabilidade de fazer crescer na fé essa criança. Ajudar-vos-á muito a ler a exortação "Amoris laetitia", sobretudo os primeiros capítulos, sobre o amor, o matrimónio, o quarto capítulo que é verdadeiramente uma chave», apontou.
Ao crescerem, os filhos tornam-se «espertíssimos» e mais conscientes do que acontece com os pais, mesmo que não haja verbalização da parte deles: «As crianças conhecem as nossas alegrias, as nossas tristezas e preocupações. Conseguem captar tudo, dão-se conta de tudo e, dado que são muito, muito intuitivos, obtêm as suas conclusões e os seus ensinamentos», vincou.
«Os "olhinhos" dos vossos filhos aos poucos memorizam e leem com o coração como a fé é uma das melhores heranças que recebestes dos vossos pais e dos vossos antepassados. Notam-no. E se vós derdes a fé e a viverdes bem, há a transmissão», prosseguiu o papa.
Francisco pediu aos pais para revelarem aos filhos como a fé dá um contributo positivo diante das dificuldades inevitáveis da vida: «Mostrai-lhes como a fé nos ajuda a ir em frente, a enfrentar tantos dramas que temos, não com uma atitude pessimista mas confiante, este é o melhor testemunho que lhe podemos dar. Há uma maneira de dizer: "As palavras leva-as o vento, mas aquele que semeia na memória, no coração, permanece para sempre».
Após pedir aos presentes para se recordarem de quem os marcou na fé, de brincarem com os filhos e se destacar o valor do exemplo, o papa apontou para a necessidade da «educação familiar na solidariedade» e nas «obras de misericórdia», que «fazem crescer a fé no coração».
«Isto é muito importante. Gosto de acentuar a festa, a gratuidade, o procurar outras famílias e viver a fé como um espaço de aprazimento familiar; creio que é necessário também acrescentar outro elemento. Não há festa sem solidariedade. Como não há solidariedade sem festa, porque quando alguém é solidário, é alegre e transmite a alegria», declarou.