O Conflito e a Unidade dos Cristãos
Estamos em plena Semana de Oração para a Unidade dos Cristãos que tem como tema “Procurarás a justiça, nada além da justiça”. O Papa Francisco disse a este propósito: «Também este ano devemos rezar para que todos os cristãos voltem a ser uma só família, coerente com a vontade divina, que quer que todos sejam um. O ecumenismo não é uma coisa opcional».
A justiça é o fundamento da unidade. Sem ela não haverá jamais verdadeira unidade. E a injustiça mais "berrante" do cristianismo é esta divisão contrária à vontade de Jesus Cristo que quis apenas uma Igreja, onde todos fossem um. Esta ferida no seio da religião cristã danifica não só a sua vivência como dificulta tremendamente o anúncio do Evangelho. Por isso torna-se necessário encontrar a unidade na diversidade.
Mas não é fácil destruir muros e construir pontes nesta busca da unidade. Existem imensos conflitos. O mais grave parece-me o "estarem sentados à mesma mesa", ou seja, a Eucaristia. Como diz o Cardeal Kurt Koch, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos: «Somos uma família, somos irmãos e irmãs, mas não podemos participar da mesma mesa. É uma grande ferida. Reencontrar esta unidade ainda é preciso muito tempo. Requer um longo caminho».
Deixando de parte os conflitos que levaram a todas estas divisões, gostaria de refletir sobre o conceito de "conflito". Podemos dizer que o conflito é constitutivo da própria vida, porque não pensamos todos da mesma forma sobre todas as questões inerentes a ela. E esta diversidade, também podemos dizer, é uma bênção. Por isso é que o conflito não deve ser evitado mas antes habitado. E habitado porque as divergências que o levam a aparecer está nas pessoas e na forma destas encararem as diversas circunstâncias da vida, com os seus objetivos e valores.
Fugir dos conflitos é fugir do confronto com a diferença que nos caracteriza a todos. Pensar que evitar um conflito de ideias, não tomando decisões, é diminuir esse confronto, só serve para aumentar a confusão e fomentar um conflito ainda maior. Procurar a verdade das coisas e das ideias é um dever que vem do Evangelho. O Senhor é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Então, confrontar-se não quer dizer que o outro tenha que pensar como eu, mas sim, caminharmos juntos. Devemos evitar o conflito quando sabemos que uma afirmação ou uma tomada de posição é contestada porque foi proferida por certas pessoas e não porque o que disseram ou fizeram esteja errado. Moralmente devemos parar. Continuar é criar novas tensões. Devemos afastar-nos dos conflitos criados para magoar e não para procurar a verdade.
Procurar a justiça implica, muitas vezes, viver situações de conflito. Não devemos fugir delas, quando sabemos que procuramos percorrer o caminho da verdade. Por isso é que Francisco diz que o ecumenismo não é uma coisa opcional: «Devemos caminhar juntos, rezar juntos, colaborar juntos». É um dever que nos vem do próprio Evangelho para que um dia possamos todos sentar-nos à mesma mesa como irmãos que somos.
Rezemos pela Unidade.