Ainda é preciso coragem?!
A coragem, tal como a esperança, parece estar em risco de desaparecimento súbito. Talvez seja melhor reformular um pouco. A coragem que está prestes a evaporar-se é a coragem certa. Aquela que nos permite avançar no caminho com a certeza de que não nos perderemos. A coragem que não se ouve nas bocas do mundo é, precisamente, aquela que nos faz falta. A coragem que não se vê nem se vislumbra é, exatamente, a necessária. Ainda é precisa, a coragem. Ainda é preciso coragem.
No entanto, o mundo parece estar inundado de uma coragemzinha triste e cabisbaixa. A coragem de fazer tropeçar quem se cruza no nosso caminho; a coragem de falar sem pensar (ignorando as consequências); a coragem de promoção do auto conforto (mesmo que isso signifique roubar o conforto alheio); a coragem para preferir palavras destrutivas, feias e magoadas (com o intuito de interferir com a paz de quem está à nossa volta); a coragem de cruzar os braços e tornar de pedra todos, e qualquer um, dos nossos gestos; a coragem de ignorar o sofrimento que se fez Casa nos olhos de quem está por perto; a coragem de não fazer absolutamente nada e de deixar tudo entregue aos logo-se-vê que vamos gritando todos os dias.
Lamento mas, a partir desta coragem, não nascem heróis. Se é esta a coragem que nos sobra, então acabo de dispensá-la. Dispenso a coragemzinha. E tu?!
Vais (e queres) encontrar espaço para:
A coragem que faz levantar os que caíram?
A coragem que faz esquecer a mágoa de ontem?
A coragem que prefere palavras bálsamo (em vez de palavras-seta) ?
A coragem para abrir os braços ao que ainda é preciso ser construído?
A coragem para os gestos que tranquilizam e acalmam?
A coragem para abraçar a dor que não é nossa?
A coragem para responsabilizar as nossas mãos pelo que falta ser feito?
É a essa a coragem que nos falta. A mim. A ti. Ao mundo. Essa que tem a forma de um raiozinho de luz e que vive, precisa e exatamente, no meio do coração de cada um.