Conto: «Apenas mais meia hora em família»
Era uma vez uma rapariga que estava sempre a discutir com os pais por tudo e mais alguma coisa. Falava-lhes de forma ríspida, queixava-se constantemente de não receber deles tudo quanto pedia, dizia amiúdes vezes que os pais dos amigos eram muito mais compreensivos e chegava a lamentar-se por ter nascido na família que lhe tinha tocado em sorte. Um dia, cansado de tanta lamúria e ingratidão, o pai, disse-lhe:
- Filha, a família é o tesouro mais precioso que possuímos, a instituição mais valiosa da sociedade e a célula mais importante da humanidade. Apesar de ainda não entenderes isso, a família não é uma realidade importante para a vida, mas é tudo o que de importante a vida tem, pois é nela onde a existência tem o seu início e os afetos não têm fim. A família é a grande escola dos valores e o mais importante património do mundo. O futuro da humanidade passa pela família, pois só ela nos faz pessoas.
Como a rapariga continuava a menosprezar a sua própria família, o pai disse-lhe que o acompanhasse a dar um passeio com a avó de apenas meia hora pelo parque. Apesar de contrariada, aceitou ir, mas mais aborrecida ficou quando viu a avó a fazer coisas menos bonitas. Irritou-se e ralhou com ela porque dava pontapés nos bancos de jardim, porque se sujava toda com o lanche que levara, porque deixava cair ao chão o casaco e o porta-moedas e porque não parava de dizer coisas em voz alta sem nexo algum.
Como a velhinha tinha uma demência, o pai da rapariga ficou triste e desiludido com as suas atitudes e recordou-lhe as inúmeras vezes que a avó tomara conta dela em criança e, com uma paciência e docilidade extraordinárias, suportara e até ocultara as suas muitas traquinices e travessuras. Então, disse-lhe:
- Filhota, a família é o amor no seu estado mais puro porque é gratuito e desinteressado e ter uma família é sentir colo, ternura e cuidado. Uma família onde reina o amor é verdadeiramente um pedaço do céu na Terra e um autêntico paraíso já aqui e agora. Nós não escolhemos a nossa família e ela é um belo presente de Deus para nós. A maior riqueza de uma família são a paz e a harmonia e podemos experimentar a verdadeira felicidade na nossa própria casa, entre as nossas rotinas quotidianas. A família é a escola onde se aprender a amar, a respeitar, a partilhar, a construir, a sonhar e se alguém quiser mudar o mundo, deve começar por si mesmo e pela sua família. Por isso, filha, ama a tua avó e estima toda a tua família, por favor.
A rapariga engoliu em seco e chorou com as palavras do pai, reconhecendo que andava a ter um comportamento absolutamente lamentável e prometeu mudar a sua atitude em relação à sua família. Uns anos mais tarde, ela encontrou o seu príncipe encantado, casou e teve dois lindos filhos gémeos que lhe deram tanto trabalho e consumições, que lhe faziam lembrar a sua própria atribulada infância e juventude. Na festinha de aniversário dos 10 anos, ela tomou a palavra e disse:
- Queridos familiares e caros amigos, na família conhecemos a maior parte dos segredos uns dos outros e somos amados incondicionalmente, por isso e apesar disso, pois aqui podemos ser verdadeiramente aquilo que somos. Na família sentimos que não precisamos de ser perfeitos para sermos compreendidos e amados, bastando-nos para isso ser transparentes e honestos. Diante das maiores dificuldades, uma família carinhosa e unida pode ser o suficiente para recarregar as nossas baterias. Todas as famílias passam por inúmeros obstáculos, mas a união faz a força e tudo fica mais fácil se todos remarem para o mesmo lado. É isso que acontece na minha família e, por isso, sou muito feliz e tenho a melhor família do mundo.
Quando os seus pais ficaram velhinhos, ela gostava de levá-los a passear à beira-mar e quando lhe pediam para ficar apenas mais meia hora a caminhar na areia ou a ver o pôr do sol ou a contar vezes sem conta as mesmas histórias, ela acedia sempre com muita alegria e como se fosse a primeira vez. E costumava dizer aos filhos que não se tratava apenas de os seus pais terem mais trinta minutos para fazerem o que pediam, mas que era ela também que tinha o privilégio de os ter consigo mais meia hora.