Papa Francisco, a última inspiração
Após a saída de Barack Obama, do cargo de Presidente dos Estados Unidos da América, o mundo ficou órfão de referências, fontes de inspiração e de liderança. Podemos ser mais ousados e reduzir ao Sumo Pontífice Francisco o papel de grande líder inspirador que ainda ficou no activo.
Estamos numa semana de enorme impacto religioso, cultural e económico dado pela chegada do Papa ao nosso país para celebrar o Centenário das Aparições de Fátima, também elas representativas de uma mensagem de esperança para o futuro. Todos os caminhos irão literalmente dar ao Santuário de Fátima. Os próximos dias 12 e 13, para mais com a tolerância de ponto dada pelo Governo (fica seguramente para a história nacional um Governo apoiado pela Extrema Esquerda conceder tolerância de ponto para a visita de um Papa), serão um momento de reflexão e de muita fé.
Todavia a vinda de Francisco a Portugal deve ser vista e sentida mais do que uma mera visita oficial de um Chefe de Estado ou um momento de fé pela visita do líder religioso dos Católicos. Aliás, era bom que muitos tomassem mais atenção ao que o Papa do Povo nos vai dizendo nas suas intervenções, homilias e encíclicas. E que textos claros e impactantes Francisco nos tem dado. O Papa Francisco chamou e bem a atenção para esta economia sem regras, sem limites e sem respeito pela dignidade da pessoa humana que mata. E se mata. Vemos hoje um complexo mundo capitalista, sem noções de sensibilidade ou solidariedade, sem respeito pelos outros seres humanos como iguais, como parte da mesma comunidade, da mesma espécie humana que habita o único planeta, por enquanto verdadeira e plenamente habitável, que é a Terra. E como era bom, reforço, ler realmente a substância, o racional do que Francisco escreve. Não nos fiquemos pela rama procuremos ir à raiz do pensamento do Papa e, de caminho, percebamos o que nos transmite a Doutrina Social da Igreja e o Papa. São tantos os livros sobre este Papa, com entrevistas, textos e citações, em qualquer bomba de gasolina, estação dos correios ou nos escaparates das livrarias. Estas semanas ninguém ficou certamente indiferente às várias montras expostas. Mas, para lá de comprar e ter exposto lá em casa, era importante, verdadeiramente importante, ler e reflectir.
Volto a esta "economia que mata", não fosse esta uma coluna de Economia no Expresso, pois não posso deixar de lutar pela dimensão cristã e solidária em que acredito, de que serve a economia se não para melhorar a vida das pessoas?
O trabalho é o meio para se viver melhor e não uma exclusiva forma de vida. O trabalho é parte importante e substancial da vida de todos nós, ocupa a maioria das nossas vidas, sobretudo na chamada idade activa, contudo, mesmo que prazenteiro e estimulante, não pode ser um fim em si mesmo. Há mais vida para lá do trabalho, desde logo a família, que é a unidade nuclear da vida em sociedade. Cito a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, na qual o Papa Francisco coloca o dedo na ferida: "devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão.". Penso que nada descreve melhor, de forma tão clara e corajosa, o estado a que chegámos, enquanto sociedade, como esta citação.
E é por tudo isto, mas sobretudo pela coragem, proximidade e simplicidade que Francisco é o grande líder inspirador deste mundo. Sabe que não precisa de palácios, luxos ou títulos para chegar ao coração das pessoas e se aproximar delas. Sabe que é, pela sua forma de estar, bem demonstrada nos inúmeros filmes e documentários da sua vida, uma fonte de inquietação em certas elites. Elites essas que gostam do status quo. Que nada mude, que ninguém ouse sequer pensar em fazer diferente. Elites que se contorcem com o estilo popular e empático deste Papa. E quem cria esta inquietação nas elites, aliado a uma coragem tremenda, só pode ter a minha profunda admiração.
Que falta fazia ao mundo um Papa como Jorge Bergoglio. Um líder sincero e autêntico, uma das melhores respostas para vencer esta "globalização da indiferença" que tem no medo e na apatia o maior rastilho e perigo. Medo de perder recursos e apatia face à situação do outro ser humano, seja ele quem for. Faz falta quem tenha a coragem de dizer o que pensa. Assim seja.
[©DIOGO AGOSTINHO | ©Expresso]