Missa em Santa Marta: todos somos escolhidos

Vaticano 24 junho 2017  •  Tempo de Leitura: 6

«Cada um de nós pode dizer “eu sou um escolhido, uma escolhida”», com a certeza de um Deus que «joga tão bem» que até se «liga a nós» tornando-se auto-prisioneiro «por amor» e tendo como critério «a pequenez». Porque se «Deus se fez pequenino, só os pequeninos podem ouvir a sua voz». Foi «o grande mistério» que Francisco relançou na missa celebrada na manhã de sexta-feira, 23 de junho, em Santa Marta.

 

«Na oração inicial da missa – observou imediatamente o Papa – louvamos Deus porque no coração de Jesus nos concede a graça de celebrar com alegria os grandes mistérios da nossa salvação, do seu amor por nós: ou seja, celebrar o facto de que acreditamos que ele nos ama, que se misturou connosco no caminho da vida e deu o seu Filho, e a vida do seu Filho, pelo nosso amor». E depois, acrescentou, «são duas as palavras que na primeira leitura – tirada do livro do Deuteronómio (7, 6-11) – chamam a atenção: escolher e pequenez».

 

«Escolher» é a primeira palavra sugerida por Francisco. «Nós fomos escolhidos», explicou, porque «não fomos nós que o escolhemos: foi ele que nos escolheu, foi ele o generoso e cada um de nós pode dizer: “eu sou um escolhido, uma escolhida”». Mas «esta escolha – afirmou o Pontífice – vai mais além, porque Moisés diz: “Nesta escolha, o Senhor ligou-se a vós”, como se se tivesse feito nosso prisioneiro: ligou-se à nossa vida, não se pode afastar». Deus «jogou bem», insistiu o Papa, «e permanece fiel nesta atitude: fomos escolhidos por amor e esta é a nossa identidade». Eis por que não tem sentido afirmar: «Eu escolhi esta religião, escolhi...». Ao contrário «não, tu não escolheste», declarou Francisco. Porque «foi ele que te escolheu, te chamou e se ligou». E «é precisamente esta a nossa fé: se não acreditamos nisto, não compreendemos o que é a mensagem de Cristo, não compreendemos o Evangelho».

 

«A segunda palavra» proposta pelo Papa «foi pequenez». Lê-se no trecho bíblico de hoje: «pois vós éreis menos em número do que todos os povos». Mas ele «amava a nossa pequenez e por isso nos escolheu, e ele escolhe os pequeninos: não os grandes, os pequeninos». Além disso, «ele revela-se aos pequeninos: “Escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos mais pequeninos”». Por conseguinte, insistiu Francisco, «ele revela-se aos pequeninos: se quiseres compreender algo do mistério de Jesus, abaixa-te: torna-te pequenino, reconhece o teu nada». Mas Deus «não só escolhe e se revela aos pequeninos»; ele «chama os pequeninos: “vinde a mim, vós, que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”». Dirige-se aos «mais pequeninos devido a sofrimentos, cansaço». Eis então que Deus «escolhe os pequeninos, revela-se aos pequeninos e chama os pequeninos». Poder-se-ia objetar: «Mas por que não chama os grandes?». A resposta é clara: «O seu amor é aberto, mas os grandes não conseguem ouvir a voz porque estão cheios de si mesmos». Ao contrário, «para ouvir a voz do Senhor é preciso fazer-se pequenino».

 

Assim, afirmou o Papa, «chegamos ao mistério do coração de Cristo», no dia em que a Igreja celebra precisamente a solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus. Há quem diga: «Mas o coração de Cristo, sim, está bem, é uma pequena imagem para pessoas devotas». Absolutamente «não», responde Francisco: «o coração de Cristo, o coração trespassado de Cristo, o coração da revelação, o coração da nossa fé porque ele se fez pequenino, escolheu este caminho». A este propósito, Paulo usa as seguintes expressões: «Abaixou-se, humilhou-se a si mesmo, aniquilou-se até à morte e morte de cruz». E esta é «uma escolha rumo à pequenez para que a glória de Deus se possa manifestar». Assim, explicou, «o soldado com um golpe de lança trespassou o lado e imediatamente saiu sangue e água: é este o mistério de Cristo, e o que nós hoje celebramos, este coração que ama, que escolhe, que é fiel, que se liga a nós, se revela aos pequeninos, chama os pequeninos, se faz pequenino».

 

«É esta a nossa fé» disse ainda Francisco. E «se não acreditamos neste mistério, somos teístas: acreditamos em Deus, sim; e em Jesus, sim! Jesus é Deus? Sim! Mas é este o mistério, é esta a manifestação, é esta a glória de Deus». Por conseguinte, prosseguiu, «fidelidade na escolha, na ligação, e pequenez também para si mesmo: tornar-se pequenino, aniquilar-se». Por isso, afirmou o Papa, «o problema da fé é o fulcro da nossa vida: podemos ser muito virtuosos, mas com nenhuma ou com pouca fé; devemos começar por aqui, pelo mistério de Jesus Cristo que nos salvou com a sua fidelidade».

 

Ao concluir, Francisco pediu na oração que «o Senhor nos conceda hoje esta graça de celebrar no coração de Jesus Cristo os grandes feitos, as grandes obras de salvação, as grandes obras da redenção».

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