Audiência Geral: Jornada contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas
O texto a seguir inclui também as partes não lidas que são igualmente consideradas como pronunciadas:
Catequese por ocasião da Jornada Mundial contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje celebra-se o Dia mundial contra o abuso e o tráfico ilícito de drogas, instituído pela Assembleia geral das Nações Unidas em 1987. O tema deste ano é A evidência é clara: investir na prevenção.
São João Paulo II afirmou que «a toxicodependência empobrece todas as comunidades onde ela ocorre. Diminui a força humana e a fibra moral. Mina os valores estimados. Destrói a vontade de viver e de contribuir para uma sociedade melhor». [1] É o que fazem a toxicodependência e o consumo de drogas. Mas recordemos, ao mesmo tempo, que cada toxicodependente «traz consigo uma história pessoal diferente, que deve ser escutada, compreendida, amada e, na medida do possível, curada e purificada. [...] Continuam a ter, mais do que nunca, uma dignidade como pessoas que são filhos de Deus». [2] Todos têm uma dignidade!
No entanto, não podemos ignorar as más intenções e ações dos contrabandistas e dos traficantes de drogas. São assassinos! O Papa Bento XVI usou palavras severas durante a visita a uma comunidade terapêutica: «digo aos que comercializam a droga que pensem no mal que estão provocando a uma multidão de jovens e de adultos de todos os segmentos da sociedade: Deus vai-lhes exigir satisfações. A dignidade humana não pode ser espezinhada desta maneira». [3] E a droga espezinha a dignidade humana!
Não se obtém a redução da toxicodependência liberalizando o seu consumo - isto é fantasia - como foi proposto, ou já atuado, nalguns países. Liberaliza-se e consome-se mais. Tendo conhecido tantas histórias trágicas de toxicodependentes e das suas famílias, estou convencido de que é moralmente necessário pôr fim à produção e ao tráfico destas substâncias perigosas. Quantos traficantes de morte – porque os traficantes de droga são traficantes de morte – existem, movidos pela lógica do poder e do dinheiro a qualquer preço! E este flagelo, que produz violência e semeia sofrimento e morte, exige um ato de coragem de toda a sociedade.
A produção e o tráfico de droga têm também um impacto destrutivo sobre a nossa casa comum. Por exemplo, isto tornou-se cada vez mais evidente na bacia amazónica.
Outra via prioritária para combater o abuso e o tráfico de drogas é a prevenção, que se faz promovendo mais justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida pessoal e comunitária, acompanhando os necessitados e dando esperança no futuro.
Nas minhas viagens a várias dioceses e países, tive a oportunidade de visitar diferentes comunidades de recuperação inspiradas pelo Evangelho. Elas são um testemunho forte e cheio de esperança do compromisso dos sacerdotes, consagrados e leigos em pôr em prática a parábola do Bom Samaritano. Da mesma forma, sinto-me encorajado pelos esforços empreendidos por várias Conferências episcopais para promover legislações e políticas justas no que diz respeito ao tratamento dos toxicodependentes e à prevenção para acabar com este flagelo.
Por exemplo, destaco a rede de La Pastoral Latinoamericana de Acompañamiento y Prevençión de Adicciones (PLAPA). O estatuto desta rede reconhece que «a dependência do álcool, das substâncias psicoativas e de outras formas de dependência (pornografia, novas tecnologias, etc.)... é um problema que nos atinge indistintamente, para além das diferenças geográficas, sociais, culturais, religiosas e etárias. Apesar das diferenças... queremos organizar-nos como comunidade: partilhar experiências, entusiasmo, dificuldades». [4]
Menciono também os Bispos da África Austral, que em novembro de 2023 convocaram um encontro sobre “Dar aos jovens poder como agentes de paz e esperança”. Os representantes dos jovens presentes no encontro reconheceram essa assembleia como «marco significativo para uma juventude saudável e ativa em toda a região». Além disso, prometeram: «Aceitamos o papel de embaixadores e defensores na luta contra o consumo de narcóticos. Pedimos a todos os jovens que sejam sempre empáticos uns em relação aos outros». [5]
Prezados irmãos e irmãs, perante a trágica situação da toxicodependência de milhões de pessoas em todo o mundo, diante do escândalo da produção e do tráfico ilícito de tais drogas, «não podemos ficar indiferentes. O Senhor Jesus parou, fez-se próximo, curou as feridas. Segundo o estilo da sua proximidade, também nós somos chamados a agir, a parar diante de situações de fragilidade e de dor, a saber escutar o clamor da solidão e da angústia, a inclinar-nos para levantar e dar nova vida a quantos caem na escravidão da droga». [6] E rezemos pelos criminosos que dão drogas aos jovens: são criminosos, assassinos! Oremos pela sua conversão!
Neste Dia mundial contra a droga, como cristãos e comunidades eclesiais, renovemos o compromisso de rezar e trabalhar contra a droga. Obrigado!
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Saudações:
Queridos peregrinos de língua portuguesa, especialmente os que vieram de Portugal e do Brasil, envio-vos uma calorosa saudação. Continuem a nutrir a vossa fé e a partilhar com alegria o amor de Cristo nas vossas comunidades. O vosso entusiasmo seja inspirado pelos Santos Pedro e Paulo, que celebraremos proximamente. Que o Senhor vos encha de bênçãos e vos guie sempre no vosso caminho.
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Resumo da catequese do Santo Padre:
Hoje comemoramos a Jornada Mundial contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas, estabelecida pela ONU em 1987. O tema deste ano ressalta a evidente necessidade de investir na prevenção. São João Paulo II alertou que o uso indevido de drogas empobrece a sociedade, enfraquecendo sua força humana e moral. Contudo, cada pessoa dependente possui uma história única que deve ser ouvida e tratada com amor e dignidade. Não podemos ignorar as ações nefastas dos traficantes, cuja ganância causa imenso sofrimento. Por outro lado, a redução da dependência das drogas não se resolve com a liberalização das mesmas. Precisamos de uma prevenção focada na justiça, educação e esperança. O Senhor Jesus, ao compartilhar da nossa condição, curou nossas feridas; assim também nós, como cristãos, somos chamados a agir e não devemos ser indiferentes a essas situações.
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[1] Mensagem aos participantes na Conferência Internacional de Viena sobre o abuso e o tráfico ilícito de drogas (4 de junho de 1987).
[2] Discurso aos participantes no encontro promovido pela Pontifícia Academia das Ciências sobre: “Narcóticos: problemas e soluções para esta questão global” (24 de novembro de 2016).
[3] Discurso à comunidade Fazenda da Esperança, Brasil, 12 de maio de 2007.
[4] https://adn.celam.org/wp-content/uploads/2023/09/Carta-a-la-Iglesia-de-ALC-PLAPA-14sept2023-CL.pdf
[5] https://imbisa.africa/2023/11/21/statement-following-the-imbisa-youth-meeting
[6] Mensagem aos participantes no 60º Congresso Internacional de Toxicologistas Forenses (26 de agosto de 2023).