Angelus : «Trazer o vinho novo da misericórdia do Senhor»
«Trazer o vinho novo da misericórdia do Senhor» é esta a missão do cristão, segundo o Papa Francisco.
Na verdade, o Papa, comentou, antes da oração do angelus, neste dia 8 de outubro, na praça de S. Pedro, na presença de cerca de 30.000 pessoas, a parábola dos vinhateiros homicidas de que fala o evangelho de S. Mateus, lido na missa de hoje.
O Papa fez notar que Deus não se fica no pecado: Deus continua a pôr em circulação «o vinho bom» da sua vinha, quer dizer, a misericórdia.
Ele alertou para um obstáculo «diante da vontade tenaz e terna do Pai»: «a nossa arrogância e a nossa presunção, que se tornam por vezes também violência!»
A história de Deus e da humanidade está marcada por «traições» e «rejeições», mas, continuou o Papa, Deus «não se vinga, deus ama-nos, Ele espera por nós, para nos perdoar, para nos abraçar».
O Papa convidou a invocar a Virgem Maria para poder trazer em toda a parte « o vinho novo da misericórdia do Senhor, porque, explicou ele, o cristianismo é « uma proposta de amor».
O Papa Papa também saudou, depois do angelus, a beatificação, em Milão, no dia 7 de outubro 2017, do padre capuchinho Arsenio da Trigolo, fundador das Irmãs de Maria Consoladora. E concluiu: «Bom domingo, bom almoço! Por favor, não se esqueçam de rezar por mim».
Eis a nossa tradução das palavras do Papa.
Caros irmãos e irmãs, bom dia !
A liturgia deste domingo propõe-nos a parábola dos vinhateiros a quem o proprietário confia a vinha que ele plantou e que depois se ausenta (cf. Mt 21, 33-43). É deste modo que a lealdade destes vinhateiros é posta à prova: a vinha é-lhe confiada, devem guardá-la, fazê-la frutificar e dar ao proprietário a colheita.
Quinado chegou o tempo da vindima, o proprietário enviou os seus servos para recolher os frutos. Mas os vinhateiros adoptam uma atitude possessiva: não se consideram como simples gestores, mas como proprietários e recusam a dar a colheita ao dono. Maltratam os servos ao ponto de os matarem. O proprietário mostra que é paciente para com eles: ele envia outros servos, mais numerosos que os primeiros, mas o resultado é o mesmo. Por fim, decide enviar o seu próprio filho, mas estes vinhateiros, prisioneiros do seu comportamento possessivo, matam também o filho, pensando que iriam ter a herança.
Este relato ilustra de maneira alegórica, as correções que os profetas tinham feito na história de Israel. É uma história que nos pertence: fala-se aí da aliança que Deus quis estabelecer com a humanidade e na qual ele também nos chamou a participar. Mas essa história de aliança, como toda a história de amor, conhece os seus momentos positivos, mas também é marcada por traições e rejeições.
Para fazer compreender como Deus responde às rejeições oposta ao seu amor e à sua proposta de aliança, a passagem evangélica coloca nos lábios do proprietário da vinha uma questão: «Portanto, quando vier o proprietário da vinha, o que fará ele aos trabalhadores?» (v.40). Esta questão sublinha que a decepção de Deus face ao mau comportamento dos homens, não tem a última palavra!
Eis a grande novidade do cristianismo: um Deus que, mesmo decepcionado pelos nossos erros e pelos nossos pecados, não deixa de ter uma palavra a dizer-nos, não se fecha, e sobretudo não se vinga!
Irmãos e irmãs, Deus não se vinga! Deus ama e não se vinga; Ele espera por nós para nos perdoar, para nos abraçar.
Pelas «pedras rejeitadas» – é o Cristo a primeira pedra que os construtores rejeitaram – pelas situações de fraqueza e de pecado, Deus continua a pôr em circulação o «vinho novo» da sua vinha, quer dizer a misericórdia. Eis o vinho novo da vinha do Senhor: a misericórdia.
Face à vontade tenaz e terna de Deus temos um obstáculo: a nossa arrogância e a nossa presunção, que se torna por vezes, também violência! Frente a essas atitudes e lá onde não damos fruto, a Palavra de Deus conserva toda a sua força de correção e aviso: «O Reino de Deus ser-vos-á tirado e será dado a um povo que produza frutos» (v.43).
A urgência de responder ao apelo do Senhor com bons frutos, que nos chama a ser a sua vinha, ajuda-nos a compreender o que há de novo e de original no cristianismo.
Não se trata de uma soma de preceitos e de normas morais, mas é antes de tudo uma proposta de amor que Deus, por Jesus, fez e continua a fazer à humanidade. É um convite a entrar nessa história de amor, tornando-se uma vinha frondosa e aberta, rica em frutos e em esperança para todos. Uma vinha fechada pode tornar-se selvagem e produzir uvas selvagens.
Somos chamados a sair da vinha para nos colocarmos ao serviço dos nossos irmãos que não estão connosco, para nos abanar e nos encorajar mutuamente, para nos lembrar que devemos ser a vinha do Senhor em todos os ambientes, sobretudo os mais distantes e os mais desfavorecidos.
Caros irmãos e irmãs, invoquemos a intercessão da Maria Santíssima, para que Ela nos ajude a ser em toda a parte, especialmente na periferia da sociedade, a vinha que o Senhor plantou para o bem de todos e a trazer o vinho novo da misericórdia do Senhor.
[©ZENIT]