Missa em Santa Marta: A Igreja não é um supermercado

Vaticano 25 novembro 2017  •  Tempo de Leitura: 8

«Igrejas de serviço, igrejas gratuitas, como foi gratuita a salvação, não “igrejas- supermercado”»: o Papa Francisco não hesitou em repropor a atualidade do gesto de Jesus de expulsar os mercadores do templo. E «vigilância, serviço e gratuitidade» foram as três palavras-chave que apresentou na missa celebrada na manhã de sexta-feira, 24 de novembro, em Santa Marta.

 

«Ambas as leituras da liturgia de hoje – explicou o Pontífice – falam-nos do templo, aliás, da purificação do templo». Inspirando-se no excerto do primeiro livro dos Macabeus (4, 36-37.52-59) o Papa observou que «depois da derrota das pessoas que Antíoco Epífanes enviara para paganizar o povo, Judas Macabeu e os seus irmãos quiseram purificar o templo onde se realizavam sacrifícios pagãos e restabelecer a beleza espiritual do templo, o sagrado do templo». Por isso «o povo sentia-se alegre». De facto, lê-se no texto bíblico que «grandíssima foi a alegria do povo, porque se cancelou a vergonha dos pagãos». Por conseguinte, acrescentou o Papa, «o povo encontra de novo a própria lei, o próprio ser; o templo torna-se outra vez o lugar do encontro com Deus».

 

«O mesmo faz Jesus quando expulsa aqueles que comerciavam no templo: purifica o templo» afirmou Francisco, evocando o trecho evangélico de Lucas (19, 45-48). Assim fazendo o Senhor torna o templo «como deve ser: puro, só para Deus e para o povo que vai rezar». Mas, por nossa vez, «como podemos purificar o templo de Deus?». A resposta, disse o Papa, está em «três palavras que podem ajudar-nos a compreender. Primeira: vigilância; segunda: serviço; terceira: gratuitidade».

 

«Portanto, vigilância é a primeira palavra sugerida pelo Pontífice: «Não só o templo físico, os edifícios, os templos, são os templos de Deus: o mais importante templo de Deus é o nosso coração, a nossa alma». A ponto que, observou o Papa, São Paulo diz-nos: «Sois templo do Espírito Santo». Portanto, afirmou Francisco, «o Espírito Santo habita em nós».

 

E precisamente «por isso a primeira palavra» proposta por Francisco é «vigilância». Eis algumas perguntas para um exame de consciência: «O que acontece no meu coração? Dentro de mim? Como me comporto com o Espírito Santo? O Espírito Santo é um dos muitos ídolo que conservo dentro de mim ou cuido do Espírito Santo? Aprendi a vigiar dentro de mim, a fim de que o templo no meu coração seja só para o Espírito Santo?».

 

Eis então, a importância de «purificar o templo interior e vigiar», afirmou o Papa. Com uma exortação explícita: «Está atento, está atenta: o que acontece no teu coração? Quem vem quem vai... quais são os teus sentimentos, as tuas ideias? Falas com o Espírito Santo? Ouves o Espírito Santo?». Trata-se contudo de «vigiar: estar atento ao que acontece no nosso templo, dentro de nós».

 

A segunda palavra é «serviço» prosseguiu o Pontífice. «Jesus – recordou – faz-nos compreender que ele está presente de um modo especial no templo daqueles que têm necessidade». E «diz claramente: está presente nos doentes, nos que sofrem, nos famintos, nos presos, está presente neles». Também para a palavra «serviço» Francisco sugeriu algumas perguntas para serem formuladas a nós mesmos: «Sei conservar aquele templo? Cuido do templo com o meu serviço? Aproximo-me para ajudar, vestir, consolar os que precisam?».

 

«São João Crisóstomo – observou Francisco – repreendia os que faziam muitas ofertas para ornar, embelezar o templo físico e não cuidavam dos necessitados, dizendo: “Não, isto não está bem, primeiro o serviço depois as ornamentações”». Resumindo, somos chamados a «purificar o templo que são os outros». E para o fazer bem é preciso que nos perguntemos: «De que modo ajudo a purificar aquele templo?». A resposta é simples: «Com o serviço aos necessitados. O próprio Jesus diz que ele está presente neles». E «está presente neles – explicou o Papa – e quando nos aproximamos para prestar um serviço, ajudar, assemelhamo-nos a Jesus que está ali dentro».

 

A tal propósito, Francisco confidenciou que viu «um ícone tão bonito do Cireneu que ajudava Jesus a carregar a cruz: olhando bem para aquele ícone, o Cireneu tinha o mesmo rosto que Jesus». Portanto «se tu acudires o templo que está doente, o preso, o necessitado e o faminto, também o teu coração será mais parecido com o de Jesus». Precisamente «por isto conservar o templo significa serviço».

 

«A primeira palavra, vigilância» resumiu o Pontífice, exprime algo que «acontece dentro de nós». Enquanto «a segunda palavra» indica-nos o «serviço aos necessitados: isso significa purificar o templo». E «a terceira palavra que me vem à mente lendo o Evangelho – prosseguiu – é gratuitidade». No trecho do Evangelho, Jesus diz: «A minha casa será casa de oração. Vós, ao contrário, fizestes dela um covil de ladrões». Precisamente tendo em mente aquelas palavras do Senhor, afirmou o Papa, «quantas vezes com tristeza entramos num templo – pensemos numa paróquia, num episcopado – e não sabemos se estamos na casa de Deus ou num supermercado: há ali os mercadores, até com uma lista dos preços para os sacramentos» e «falta a gratuitidade».

 

Contudo, «Deus salvou-nos gratuitamente, nada nos cobrou » insistiu o Pontífice, convidando a ajudar «para que as nossas igrejas, paróquias não sejam supermercados: mas casa de oração, que não sejam covil de ladrões, mas serviço gratuito». Certamente, acrescentou o Papa, alguém poderia objetar que «devemos ter dinheiro para manter a estrutura e também para dar de comer aos sacerdotes, aos catequistas». A resposta do Pontífice foi clara: «Tu dá gratuitamente e Deus providenciará o resto, Deus providenciará o que falta».

 

«Conservar o templo – afirmou Francisco – significa: vigilância, serviço e gratuitidade». Antes de tudo «vigilância no templo do nosso coração: devemos prestar atenção ao que acontece lá, estar atentos porque é o templo do Espírito Santo». Depois «serviço aos necessitados», repetiu, sugerindo que se leia o capítulo 25 do Evangelho de Mateus. Serviço inclusive «aos famintos, aos doentes, aos presos, aos que têm necessidade porque ali está Cristo», sempre com a certeza de que «o necessitado é o templo de Cristo».

 

Por fim, concluiu o Papa, o «terceiro» ponto é a «gratuitidade no serviço que se oferece nas nossas igrejas: igrejas de serviço, gratuitas. Como foi gratuita a salvação, e não “igrejas-supermercado”».

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