O Terço de Francisco
Pela primeira vez em quase nove anos Asia Bibi, a cristã condenada à morte por blasfémia, foi autorizada a possuir um objecto religioso na sua cela. Trata-se de um Terço oferecido pelo Santo Padre. Para ela é um verdadeiro “milagre”, apesar de poucos acreditarem que alguma vez as autoridades a venham a libertar…
Dia 12 de Março. As guardas femininas da prisão de Multan avisaram Asia Bibi, 53 anos, para se preparar, pois tinha visitas. É muito raro esta cristã, mãe de cinco filhos, receber visitas na cadeia desde que, em Junho de 2009, foi presa depois de ter sido acusada por um grupo de mulheres de ter conspurcado um poço de onde tinha bebido apenas um copo de água. Foi acusada de blasfémia e condenada à morte por enforcamento. Asia Bibi reencontrou-se no dia 12 de Março com o seu marido Ashiq e uma filha, Eisham, acabados de regressar de Roma onde participaram numa iniciativa organizada pela Fundação AIS para lembrar ao mundo os cristãos perseguidos, os mártires do nosso tempo. Ela sabia da iniciativa da Fundação AIS e aguardava com expectativa o dia em que lhe contassem como tudo correu. Quando Eisham lhe estendeu o Terço oferecido pelo Papa Francisco, e lhe contou o comovente encontro com o Santo Padre, as suas palavras e a certeza das suas orações, foi difícil reprimir toda a emoção. “Um milagre”, disse Asia Bibi. “É pela primeira vez em nove anos que posso ter comigo na cela um objecto religioso”.
“Atirada para a prisão…”
Nove anos de cadeia. A vida desta cristã “deu um trambolhão” – como confessou à jornalista Anne-Isabel Tollet (autora do livro “Blasfémia: condenada à morte por um copo de água) – no dia 14 de Junho de 2009. Foi nesse dia, quando decidiu beber um copo de água, que a sua sorte ficou traçada. De nada lhe valeram todas as juras de inocência. “Cinco dias mais tarde, fui atirada para a prisão”. Toda a sua vida, desde então, tem sido atrás das grades. O Terço oferecido pelo Santo Padre foi mais do que um simples terço, mesmo sendo oferecido por um Papa. Foi um gesto imenso de solidariedade, a garantia de que nunca estará sozinha durante o tempo em que estiver ainda em cativeiro. “Recebo este dom com emoção e gratidão”, disse Asia Bibi. “Para mim este Terço será um grande consolo, assim como me conforta saber que o Santo Padre reza por mim e pensa em mim nestas difíceis condições que me encontro”. O marido e a filha explicaram com todos os pormenores como foi a jornada de oração internacional organizada pela Fundação AIS. Asia Bibi agradeceu o empenho de tantas pessoas pela sua libertação e pela causa da liberdade religiosa no mundo. Uma causa que não pode esmorecer. “A atenção internacional sobre o meu caso é fundamental”, disse Asia Bibi. “De facto, é por isso que ainda estou viva. Agradeço à “Fundação AIS” por tudo o que fazem, não somente para mim, mas por todas as outras vítimas desta lei anti-blasfémia que atinge as minorias religiosas.” Quando, no passado dia 12 de Março, se despediu do marido e da filha, provavelmente estaria em lágrimas. No entanto, tinha consigo um verdadeiro tesouro: o Terço que o Santo Padre lhe ofereceu e que, a partir de agora, lhe vai recordar todos os dias que não está só, que há milhares de pessoas em todo o mundo que, como ele, rezam e lutam também pela sua libertação.