Aldeia fantasma.

Notícias 26 abril 2018  •  Tempo de Leitura: 4

Em Qalat’al Hons, uma aldeia que nasceu na sombra de um castelo medieval, não há nenhum cristão. Os que viviam por lá, cerca de três centenas, fugiram quando os jihadistas ocuparam a região. Agora estão algures no chamado Vale dos Cristãos. Mas o Padre Maamary não desiste e sonha com o dia em que se vai voltar a rezar o Pai Nosso na Igreja de Nossa Senhora da Assunção…


A aldeia de Qalat’al Hons ocupa apenas um minúsculo ponto no mapa. Mas ao lado, junto às suas poucas casas, ergue-se desde os tempos medievais o imponente Crack dos Cavaleiros, um castelo que pertenceu à ordem dos Hospitaleiros. Foi por causa do castelo que a região foi atormentada, em 2012, por grupos jihadistas que ocuparam todas as aldeias em redor. A igreja local foi um dos primeiros alvos dos jihadistas. O Padre George Maamary nunca mais conseguiu esquecer esses dias em que esteve prisioneiro dos terroristas. “Mal chegaram, dirigiram-se para a igreja, onde vivia, derrubaram a porta e prenderam-me. Agrediram-me de tal forma que, mais tarde, tive de ser operado ao ombro”, diz o sacerdote à equipa da Fundação AIS que agora esteve na sua aldeia. “Graças a Deus, o sequestro durou pouco tempo pois trocaram-me por um jihadista.” A aldeia não tinha mais de 25 mil habitantes. Só 300 eram cristãos. Quase todos viviam nas imediações da igreja de Nossa Senhora da Assunção.


Um aviso…


A prisão do Padre foi entendida por todos como um aviso. Todos já conheciam as histórias de cristãos agredidos, crucificados e mortos nas aldeias ocupadas pelos jihadistas. Ali, não iria ser diferente. E, de um dia para o outro, a aldeia esvaziou-se de todos os Cristãos. “Desde então – diz o Padre George Maamary – nenhuma família cristã voltou a viver aqui. Já lá vão seis anos…” A zona foi palco de ferozes combates tendo as forças governamentais conseguido expulsar os jihadistas dois anos mais tarde, em 2014. Foram dois anos de uma violência que ficou impressa nas paredes das casas, nas marcas do tiroteio, nas bombas. E também nas casas dos cristãos que foram arrombadas e saqueadas, tal como a igreja e tudo o que pertencia à comunidade cristã. Apesar de tudo, o Padre George nunca abandonou a zona. Ficou como se fosse o guardião do templo e de um tempo em que todos tinham sido felizes. Uma das suas preocupações, logo após a reconquista da região pelas forças governamentais, foi pintar uma cruz na porta das casas dos Cristãos para as proteger. As casas lá estão, esventradas de tudo o que tinham, mas aguardando a chegada das famílias, aguardando o regresso aos risos, às conversas do dia-a-dia. O regresso à vida. As casas estão lá, mas os Cristãos mostram-se ainda receosos. “A impotência destas famílias é muito grande”, diz o Padre George. Eles continuam desenraizados, vivendo em aldeias por ali, no Vale dos Cristãos, como em Marmarita e Kafra, a apenas 10 km de distância, mas, mesmo assim, sentem que não podem regressar. Não podem regressar, pois estão sem trabalho. O que tinham foi roubado. Recuperar a aldeia é, apesar de tudo, relativamente simples. As casas podem sempre ser consertadas. Mas que dizer das pessoas? Como é que se reconstrói a alegria, como é que se recupera o tempo perdido? Para já, Qalat’al Hons continua a parecer uma aldeia fantasma. Mas o Padre Maamary não desiste e sonha com o dia em que se vai voltar a rezar o Pai Nosso na Igreja de Nossa Senhora da Assunção… E, para isso, ele conta com a nossa ajuda. Com a sua ajuda.

Fundação de direito pontifício, a AIS ajuda os cristãos perseguidos e necessitados.

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