Egito: Comunidade cristã vive dias de sobressalto e medo.
A minoritária comunidade cristã no Egipto está na mira dos terroristas, dos radicais islâmicos. No ano passado, quatro dias depois do Natal, um ataque a uma igreja no Cairo deixou um rasto de sangue e morte. Uma menina, de apenas 13 anos, viu a mãe ser assassinada mesmo à sua frente. A história.
Dia 29 de Dezembro de 2017. A missa na Igreja de Marmina, nos subúrbios da capital egípcia, tinha terminado há pouco. Nesma Wael, de 13 anos, segue por uma rua estreita na companhia de uma prima e da mãe. Um motociclista que se dirigia para os lados da igreja não consegue desviar-se de um buraco na estrada e cai perto delas. A mãe de Nesma, Nermeen Sadiq, enfermeira no Centro de Diálise do Cairo, corre para lá para ajudar. Abeira-se do motociclista e pergunta-lhe se está tudo bem. O homem, entretanto, começa a erguer-se e, num abrir e fechar de olhos, tira uma pequena metralhadora que trazia escondida e dispara à queima-roupa. Foram segundos. Pareceu uma eternidade. Desde esse dia que Nesma tem recordado vezes sem conta como tudo se passou, como um filme que está sempre a rebobinar na sua memória. A mãe estava ainda meio debruçada sobre o homem quando todos viram a metralhadora. Por mais que tente visualizar de memória aqueles instantes, parece que falha sempre alguma coisa. Mas não. Foi brutal. O homem disparou e uma bala acertou no braço de Nermeen que tombou logo para o chão. Houve gritos na rua, os pássaros esvoaçaram assustados e as duas meninas, num impulso, correram para uma loja, ali mesmo ao lado, que estava com a porta aberta. A empregada da caixa viu tudo o que se estava a passar e num impulso, escondeu-as atrás da arca frigorífica.
Ninguém estendeu a mão
O terrorista olhava para todo o lado à procura das duas raparigas. Não as encontrou. Virou-se então para trás, para Nermeen, que estava estendida no chão, e esvaziou a arma no seu corpo. Depois, ergueu a moto e partiu dali a toda a velocidade. A rua, que há minutos estava cheia de vida, cheia de gente, ficou sepultada num silêncio terrível. Só se ouviam os gritos das duas meninas. Nesma Wael saiu do supermercado e correu, juntamente com a prima, para junto da sua mãe. As pessoas foram-se aproximando, então, mas ninguém ousou ajudar aquela menina que tinha nos braços a sua mãe. Passados uns minutos, chegou uma ambulância. Nermeen já tinha falecido. À porta da igreja jaziam outras pessoas assassinadas também a tiro, tal como ela. O ataque foi reivindicado pelo auto-proclamado Estado Islâmico. Além de Nermeen, foram mortas mais nove pessoas, nove cristãos, nesse 29 de Dezembro de 2017. Desde esse dia, a vida mudou brutalmente para Nesma Wael. “Sinto muito a falta da minha mãe”, confessou à Fundação AIS, acrescentando que, apesar disso, sabe que ela, a sua mãe, está no Céu. “Sinto-me feliz porque é uma mártir. Estava com ela na altura do ataque e nem sequer fiquei ferida. Foi a vontade de Deus que a escolheu especificamente para ir para o Céu.” A minoritária comunidade cristã no Egipto está na mira das armas dos radicais islâmicos. Nesma Wael tem apenas 13 anos. Ela viu a mãe ser assassinada mesmo à sua frente. Hoje, quatro meses depois, quer deixar-nos uma mensagem de esperança e de confiança. “Não tenham medo! As nossas vidas estão nas mãos de Deus e temos de permanecer fiéis à nossa fé.” Nesma contou à Fundação AIS como a sua vida se alterou desde o assassinato da sua mãe que, como enfermeira, era o principal sustento da família. O pai, de 35 anos, é motorista mas não consegue trabalhar com regularidade. Tudo é muito mais difícil agora. Mas Nesma não desiste. Quer estudar e deseja ser médica nefrologista, para “cumprir o sonho” que a mamã tinha para si. Para a sua menina…
Quer ajudar Nesma Wael nos seus estudos, para se tornar médica como a sua mãe tanto sonhava? Descubra como, contactando a Fundação AIS. Tel: 217 544 000