AIS: «Não podemos ficar calados»

Notícias 13 dezembro 2018  •  Tempo de Leitura: 4

Mais de 60 mortos, entre os quais dois sacerdotes. Foi um verdadeiro massacre. Muitos morreram calcinados. O ataque de 15 de Novembro contra a Catedral e um campo de refugiados em Alindao, na RCA, foi apenas o mais recente episódio numa longa lista de violência que teve início em 2103. A ameaça sobre os Cristãos é imensa. Como alerta o Arcebispo de Bangui, “ou conseguimos restaurar a paz ou desaparecemos…”

 

Foi um tsunami de violência que abalou a cidade de Alindao, na República Centro-Africana, na quinta-feira, dia 15 de Novembro. A catedral e o campo de refugiados, que albergava mais de vinte mil pessoas, na sua maioria cristãos, foram atacados com uma ferocidade inimaginável. Milhares de pessoas tiveram de fugir para a floresta procurando salvar a própria vida. Foram minutos de terror. Ficou um rasto de destruição e morte dificilmente traduzível por palavras. Corpos calcinados, esquartejados… Ninguém foi poupado. Nem mulheres ou crianças. Dois padres foram também assassinados. Um deles terá sido mesmo queimado vivo. A República Centro-Africana vive uma terrível onda de violência desde 2013, com grupos armados muçulmanos, os Séléka, a espalharem a violência contra as populações civis, o que deu origem à criação de grupos de auto-defesa, conhecidos localmente como os “anti-Balaka”. Calcula-se que haverá 18 milícias armadas são responsáveis por estes ataques contra as populações, raptos e contrabando. O conflito neste país já provocou mais de 1 milhão e 200 mil refugiados e deixou ainda cerca de 2,5 milhões de pessoas a precisarem de ajuda humanitária de emergência. O ataque de 15 de Novembro, da responsabilidade de uma das milícias muçulmanas, revestiu-se de uma brutalidade imensa. O Arcebispo de Bangui, Cardeal Dieudonné Nzapalainga, visitou Alindao alguns dias após o ataque. A dimensão da violência perceptível nas marcas de destruição deixaram-no alarmado. A zona onde decorreu o ataque ficou quase reduzida a cinzas.


Massacre de inocentes


“Não podemos ficar calados. Não é possível silenciar tanta atrocidade, tanta violência”, disse então D. Nzapalainga, denunciando os grupos armados que mantêm “a maior parte da população refém”. O que aconteceu a 15 de Novembro, o que tem acontecido quase todos os dias na República Centro-Africana é “um massacre de inocentes”, acrescentou ainda o Cardeal Nzapalainga. É preciso agir com urgência para impedir novos ataques. É preciso agir com urgência para se defender as pessoas, as famílias que tudo perderam e que estão à mercê dos bandos armados. Mas como explicar tanta violência? Para D. Dieudonné Nzapalainga, “há interesses económicos em jogo, interesses geopolíticos”, que têm de ser vistos por vezes fora do contexto das próprias fronteiras do país. Já no prefácio do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, publicado no mês passado pela Fundação AIS, este prelado falava na dimensão brutal da violência que está a ser exercida contra a comunidade cristã. “Aqui, em Bangui, não temos qualquer escolha. Ou conseguimos restaurar a paz ou desaparecemos…” Há cinco anos que a violência faz parte do quotidiano deste país. Ninguém está a salvo. Ninguém está seguro em lugar algum. Nada é poupado. Os Padres Blaise Mada e Celestine Ngoumbango, assassinados no dia 15 no campo de refugiados de Alindao, são apenas duas das mais recentes vítimas desta guerra por procuração que está a consumir este país africano.

Fundação de direito pontifício, a AIS ajuda os cristãos perseguidos e necessitados.

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