A irmã da pick-up
Olha-se à volta e não se vê vivalma. Naquela região do Peru as montanhas são enormes, muitas vezes quase despidas de vegetação e praticamente sem ninguém. Viver por ali parece castigo. Mas é ali, no meio da montanha, que a irmã Mari Graciana vive a aventura de levar o sorriso de Deus àquelas pessoas com vidas tão sofridas.
É uma pick-up Toyota, semelhante àquelas que os jihadistas usavam no Iraque e na Síria quando entravam ameaçadores nas povoações, aos tiros para o ar, empunhando enormes bandeiras negras. Esta é, no entanto, uma carrinha diferente. Ali não há ódio, nem armas, nem ameaças. Quando as irmãs se preparam para partir para mais um dia de missão junto das populações perdidas na montanha, tratam de tudo. Carregam a carrinha com os alimentos que vão levar às famílias mais necessitadas, assim como roupas e alimentos. Mas, acima de tudo, vão cheias de Deus. Aos 28 anos, a irmã Mari Graciana não tem dúvidas de que é ali que quer estar. Ali, no meio dos pobres, dos muito pobres, dos que às vezes nem entram sequer nas estatísticas oficiais. Mas, para as Missionárias de Jesus Verbo e Vítima, esses pobres quase invisíveis são a razão de ser da própria congregação. Aquela região parece ter sido fustigada pelo destino. A altivez da montanha afasta as pessoas. Só quem não tem mesmo mais nada vive ali. Por ali também não há padres. Com uma especial permissão do Santo Padre, estas irmãs assistem a casamentos, celebram baptizados, distribuem a sagrada comunhão, mas, mais do que tudo isso, transportam consigo o sorriso de Deus. “As pessoas alegram-se muito sempre que visitamos as suas casas”, diz-nos a irmã Graciana. “Para eles é uma bênção!” Muitos dos que vivem serra acima estão muito longe da civilização. Sempre estiveram. Com a idade, ficam cada vez mais enclausurados na montanha, como se ela fosse uma prisão ao ar livre.
Únicas visitas
De facto, a maior parte dos que vivem na montanha são idosos. As irmãs são as únicas visitas que recebem. A carrinha pick-up só faz uma parte do caminho. Serra acima, quando a estrada de terra batida acaba, só resta mesmo seguir a pé. Todos os dias as irmãs fazem-se ao caminho. Todos os dias visitam pessoas concretas e levam-lhes alguma comida, pão fresco que elas próprias amassam com as suas mãos, medicamentos e roupa. Elas são uma espécie de anjos da guarda das pessoas esquecidas da montanha. A vida é rude lá em cima. As casas são pouco mais do que abrigos construídos com pedras. Falta tudo. Às vezes falta até amor, carinho, ternura. O envelhecimento da população é um problema sério. Mas a educação dos mais novos também. “Um dia – conta a irmã Graciana à Fundação AIS – uma criança fez uma travessura e eu tive de a repreender. ‘Gosto muito de ti mas não vou permitir que voltes a fazer isso…’ O menino olhou para mim e disse: ‘irmã, tu gostas de mim?’ ‘Claro que gosto de ti’, respondi. Então, abraçou-me e disse: ‘A minha mãe nunca disse que gostava de mim…’” Crianças abandonadas, idosos sem família, pessoas sem futuro. Sempre que saem de casa e rumam montanha acima, as irmãs levam roupa, comida e remédios. Viver na montanha parece castigo. Mas é ali, lá bem no alto, onde nem a carrinha pick-up consegue chegar, que a irmã Mari Graciana vive a aventura de levar o sorriso de Deus, a ternura de Deus àquelas pessoas com vidas tão sofridas.