AIS: Pequenas coisas
Sonhou com um bom marido e muitos filhos. Uma grande família. Deus fez-lhe a vontade. Hoje, a Irmã Júlia vive numa ordem contemplativa – a Congregação de São Bento, na Ucrânia – e diz que recebeu Jesus como esposo. O sorriso com que embala as palavras é a prova de que é feliz. Tudo o que faz no dia-a-dia é em função de Deus. Mesmo as coisas insignificantes. Especialmente as coisas mais insignificantes…
Júlia tinha um sonho. Casar, ter uma grande família, muitos filhos. Uma vida cheia. Júlia rezou muito. Pediu a Deus para escutar a sua oração, o seu pedido. O seu sonho. Júlia procurava um marido, mas Deus deu-lhe muito mais. Deu-Se. Júlia foi uma rapariga normal, uma boa estudante. Acabou o curso de medicina para ajudar as pessoas, ajudar os outros. “Sempre quis ajudar”, diz, sorrindo. Desde pequena que Júlia se tinha habituado a falar com Deus, a tagarelar com Ele. A rezar. Desde pequena que Júlia lhe pedia uma vida cheia, uma vida feliz. Um dia, Júlia descobriu a Congregação das Irmãs de São Bento. Houve um clique. Ali dentro, no mosteiro, naquela casa, viviam algumas mulheres consagradas. Visto assim, de fora, as suas vidas resumiam-se a momentos de oração e de trabalho. Visto com os olhos enamorados de Deus, Júlia descobriu muito mais. “Nós vivemos no mosteiro para ajudarmos o mundo com as nossas orações.” São apenas algumas mulheres. A mais nova tem apenas 24 anos e a mais velha 68. Ao todo, são 18 irmãs. São 18 vozes a rezar pelo mundo. Por todos nós. Hoje, a irmã Júlia sorri quando olha para trás, para as suas dúvidas e expectativas. A irmã Júlia sorri quando pensa nos filhos que não teve e repara na humanidade inteira que abraçou quando decidiu seguir a vida religiosa. A vida no mosteiro é simples. As irmãs rezam e trabalham. “A nossa vocação não é uma escolha, mas a resposta a um chamamento.”
Pretexto para oração
O mosteiro onde vive a Irmã Júlia tem uma pequena quinta. As irmãs tratam dos animais, da agricultura. De tudo. São elas que cozinham, são elas que lavram o campo, que podam as árvores, que limpam o chão dos dejectos dos animais. Nada ali é insignificante. Para as irmãs, cuja missão principal é a adoração perpétua de Deus, cada pequeno gesto, até o cortar da lenha, o mexer a comida ao lume, é pretexto para um instante de oração. De uma oração que não tem começo nem fim. As irmãs rezam como respiram. Quando entrou no mosteiro, a Irmã Júlia despediu-se um pouco de si própria. Ela não vive mais para si, para os seus sonhos ou desejos, para a sua carreira. Tudo o que a Irmã Júlia faz agora no dia-a-dia é em função de Deus. “A nossa pobreza é não escutarmos Deus.” Por isso, a Irmã Júlia e todas as outras 18 irmãs do mosteiro de Zytomierz, na Ucrânia, dão tanta importância a todos os gestos do dia-a-dia. É que Deus está presente em tudo. Mesmo nas coisas insignificantes. Especialmente nas coisas insignificantes…