Bispo de Bangassou arrisca a vida para salvar milhares de muçulmanos
A República Centro-Africana está num absoluto caos, com cidades e aldeias tomadas por grupos armados que espalham o medo e a morte. Há apenas três semanas, em Bangassou, graças à coragem do bispo local e à actuação pronta de militares portugueses ao serviço da ONU, não foram chacinadas centenas de pessoas. Eram quase todas muçulmanas. Agora estão refugiadas em igrejas e no seminário local.
Foi na segunda-feira, dia 8 de Maio, que a situação começou a tornar-se explosiva. Grupos de jovens armados começaram a atacar várias localidades na República Centro-Africana. Nada parecia ser capaz de deter o ódio com que disparavam as armas. Conotados com grupos de “auto-defesa”, estes “anti-balaka” procuram semear o medo entre a comunidade muçulmana no país. No sábado, dia 13, atacaram a cidade de Bangassou, correndo casa a casa, procurando eliminar o maior número possível de pessoas. No meio do caos, centenas de muçulmanos fugiram procurando salvar as próprias vidas. O Bispo de Bangassou, o comboniano espanhol D. Juan José Aguirre, abriu as portas da própria Catedral, da casa episcopal e do seminário abrigando assim cerca de 2 mil pessoas assustadas. Muitos refugiaram-se também na mesquita. Os jovens armados – cerca de 600 – cercaram então a mesquita, disparando para o seu interior. Ninguém conseguia sair dali. Estavam encurralados. Lá dentro já havia um número considerável de pessoas feridas. Era preciso evitar um massacre. Então, D. Juan José Aguirre avançou para a porta da mesquita, enfrentando as milícias armadas, oferecendo-se como um escudo humano na tentativa de salvar todas aquelas pessoas. “Eu mesmo fui para lá e coloquei-me diante da mesquita pedindo para pararem com os disparos.” Em declarações à Fundação AIS, ao telefone, desde Bangassou, D. Juan Aguirre lembra que o seu principal objectivo era “negociar a saída dos muçulmanos” que estavam abrigados na mesquita. Mas, de repente, os “anti-balaka” voltam a disparar. Por sorte, D. Aguirre não é atingido, mas um líder muçulmano, que estava mesmo a seu lado, não teve a mesma sorte e morreu. Só não se verificou uma tragédia imensa graças à chegada, entretanto, de um grupo de comandos portugueses – uma força de reacção rápida – ao serviço das Nações Unidas, que permitiu resgatar o prelado e libertar os muçulmanos que se encontravam na mesquita.
Futuro incerto
O Bispo de Bangassou não tem mãos a medir. Todos os muçulmanos que lhe pediram refúgio estão numa situação dramática. “Temos mais de duas mil pessoas que não fazem ideia de como estão as suas coisas, os seus bens, as suas casas. Provavelmente roubaram-lhes tudo. Nós, em conjunto com a Cruz Vermelha, já enterrámos mais de cinquenta corpos… Nestes trinta e cinco que vivi aqui – acrescenta o prelado – nunca vi nada assim.” O Papa Francisco já manifestou a sua tristeza por esta violência descontrolada. “Rezo pelos defuntos e feridos e renovo o meu apelo: que as armas se calem e prevaleça a boa vontade em dialogar para trazer paz e desenvolvimento ao país.” Contra os grupos armados que semeiam o terror e a morte, a Igreja tem apenas as armas da palavra, do perdão e da caridade. O exemplo do Bispo de Bangassou, que arriscou a própria vida para salvar centenas de muçulmanos, irá ajudar a fazer esse caminho de reconciliação, que é a única via possível para a paz. Contra a violência ergue-se o poder da oração.