AIS: Até ao fim
Fez, em Agosto, cinco anos. Parece ter sido ontem. A brutal invasão dos jihadistas do Daesh das terras bíblicas da Planície de Nínive, no Iraque, provocou a fuga a mais de 120 mil cristãos. Cinco anos depois, os cristãos continuam a sentir-se abandonados e pedem ajuda. E deixam um alerta: o fim do cristianismo no Iraque pode ser mesmo uma dolorosa realidade…
Petros Mouche e D. Bashar Warda: dois bispos, duas vozes que se têm erguido na denúncia da situação terrível em que se encontra a comunidade cristã no Iraque. Desde Agosto de 2014, quando a região bíblica da Planície de Nínive foi invadida por centenas de jihadistas fortemente armados, que tanto D. Petros como D. Bashar não se têm poupado na defesa dos cristãos que se viram, de um dia para o outro, de mãos vazias e completamente desprotegidos. Foram mais de 120 mil cristãos. Cinco anos depois, a cada dia que passa cresce o desespero de uma comunidade que se sente desamparada, que se vê a caminhar para a irrelevância, talvez mesmo para a extinção. D. Petros Mouche e D. Bashar Warda pretendem alertar a consciência da comunidade internacional. Se nada se fizer, o cristianismo estará mesmo à beira da extinção no Iraque. São palavras duras que não podem ser ignoradas. D. Bashar Warda é arcebispo de Erbil, no Iraque. Já esteve em Portugal, em 2016, para a apresentação do Relatório da AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo. Agora, numa entrevista à Fundação AIS, perante a pergunta se o cristianismo está mesmo ameaçado nesta região, D. Bashar não poupa as palavras. “Pode bem ser. O Cristianismo no Iraque, uma das Igrejas mais antigas, está perigosamente próximo da extinção. Antes de 2003 chegávamos ao milhão e meio, 6% da população. Hoje talvez já nem cheguemos aos 250 mil. Talvez menos. Os que permanecem têm de estar prontos a enfrentar o martírio…” É impossível não recuar a esses dias de infâmia quando famílias inteiras tiveram de fugir em sobressalto apenas com a roupa que traziam vestida. D. Bashar fala dos militantes jihadistas do Daesh como “os algozes”. E lembra que, por causa desse ataque, a comunidade cristã foi forçada a fugir. “Isso deixou-nos”, recorda o Arcebispo de Erbil, “numa só noite, sem abrigo e sem refúgio, sem trabalho e sem propriedades, sem igrejas e sem mosteiros”. E acrescenta: “Os nossos algozes roubaram-nos o presente enquanto procuravam apagar a nossa história e destruir o nosso futuro”.
Faltam projectos
Foi há cinco anos. Mudou entretanto muita coisa? Infelizmente, não. D. Petros Mouche, responsável pela Igreja Católica Siríaca em Kirkuk, no Curdistão, faz também um balanço preocupante da situação em que se encontra a região. Do que foi feito, diz, “nenhum crédito vai para o Estado, mas sim para as organizações religiosas e humanitárias que correram para nos apoiar”. No entanto, acrescenta, “ainda não temos fundos suficientes para concluir a reconstrução de todas as casas” destruídas pelos jihadistas. Sem ajudas, resta a fé. Não haverá futuro sem perdão nem reconciliação. E os Cristãos têm, por isso, um papel fundamental a desempenhar. “Nós perdoamos àqueles que nos assassinaram, que nos torturaram, que nos violaram, que procuraram destruir tudo o que somos. Perdoamos-lhes”, explica o Arcebispo de Erbil. “Em nome de Cristo, perdoamos-lhes. E por isso dizemos aos nossos vizinhos muçulmanos: aprendam isto connosco. Deixem-nos ajudar-vos a sarar. As vossas feridas são tão profundas quanto as nossas. Sabemo-lo. Rezamos pela vossa cura. Deixem-nos curar juntos o nosso país torturado e ferido.”
O futuro é incerto. Mas sem os Cristãos o Iraque nunca mais será o mesmo país. É preciso ajudar a Igreja para que esta comunidade possa continuar a sua presença nestas terras bíblicas. Até ao fim.