A melhor amiga

Notícias 12 março 2020  •  Tempo de Leitura: 5

Foi num domingo. Um dia que Patience John nunca mais vai esquecer. Foi no dia 28 de Outubro de 2012. Há quase oito anos. Ao lado de Patience, na Missa, estava Sarah, a sua melhor amiga. De súbito, os cânticos foram interrompidos com o barulho ensurdecedor de uma explosão…

 

Domingo, dia 28 de Outubro de 2012. Um carro esmaga-se contra o edifício da igreja. A explosão foi brutal. Indescritível. O pânico é total. Uma dor profunda atingiu Patience John no rosto, no corpo. Passaram já vários anos, mas custa-lhe ainda recordar esse dia, esse domingo. Custa-lhe rever as imagens gravadas na sua memória como num filme. O sangue, os gritos na igreja, as pessoas em lágrimas. Uma confusão total. A seu lado, Sarah já não se movia. A Missa estava perto do fim quando tudo aconteceu. Veio nas notícias em todo o mundo. Um terrorista suicidou-se atirando um carro carregado de explosivos contra a Igreja de Santa Rita em Malali, no estado de Kaduna. Oito pessoas perderam logo a vida. Mais de 145 ficaram feridas, algumas em estado crítico. Patience Ishaya Johnficou atordoada. O sangue toldava-lhe a vista, escorria pelo rosto e ela ainda nem sabia que iria ficar cega de um dos olhos. E com cicatrizes. Sempre que se vê ao espelho, Patience revê o atentado, a explosão, a Igreja em chamas, as pessoas aos gritos e vê Sarah imóvel, caída no chão, a seu lado. “Perdi um dos meus olhos. Tenho cicatrizes que ficarão no meu corpo para sempre.”  Às vezes só descobrimos o valor das coisas quando as perdemos. Só compreendemos a importância da saúde quando adoecemos, só realizamos como algumas pessoas são importantes para nós quando elas deixam, por alguma razão, de frequentar as nossas vidas. Sarah Yohanna era a melhor amiga de Patience John. Ao perdê-la, naquele atentado bombista, Patience ficou de luto. Não há forma de se substituir a melhor amiga. Não há forma de a esquecer. Não há dia sem que Patience não se lembre de Sarah. A sua melhor amiga. “Conheci-a na escola secundária. Cantámos juntas até ao dia em que ela morreu. Eu fazia muitas coisas com a Sarah. Ríamos juntas. Ensaiava com a Sarah na igreja e fora da igreja. Andávamos pelas ruas, a ensaiar e a cantar. Naquele fatídico Domingo, saímos de nossas casas tão felizes por irmos à igreja celebrar a Missa como habitualmente…”

 

Estratégia de terror

 

Tudo acabou com o estrondo do carro a amolgar-se contra a igreja, a despedaçar vidas, sorrisos, sonhos… Patience John carrega no próprio rosto as marcas do atentado. Mesmo que queira fugir dessa memória trágica, ela impõe-se, severa, como uma ferida que não desaparece. O bombista cumpriu com a sua missão. Matou. É difícil compreender o propósito de alguém que queira apenas destruir, semear o medo, a violência e a morte. O atentado na Igreja de Santa Rita foi apenas um dos muitos ataques que têm abalado o norte da Nigéria desde 2009, quando o grupo terrorista Boko Haram começou as suas actividades nesta região. Os cristãos são um dos seus alvos. Os terroristas concretizaram a operação mas perderam. Destruíram a igreja mas perderam. “Todos os dias penso na presença da Sarah na minha vida. Ouço a voz dela. Sempre que penso nela, a única coisa que posso dizer é que ela morreu por causa da sua fé. Quando as pessoas olham para nós, vêem as cicatrizes, vêem aquilo pelo que temos passado, acham que vamos desanimar. Eu, em particular, nunca hei-de desanimar. Pelo contrário, vou ter ainda mais coragem.” Patience Ishaya John é um dos rostos da coragem dos cristãos da Nigéria que praticamente todos os dias são sobressaltados com ataques, com ameaças, com bombas, e, apesar disso, resistem. A fé dos cristãos da Nigéria é mais poderosa do que a dinamite dos terroristas. Depois do ataque terrorista do Boko Haram, a Igreja de Santa Rita em Kaduna foi reconstruída. O coro recomeçou os ensaios. A igreja voltou a encher-se de gente, de cristãos, de orações. Sarah não morreu em vão.

 

Fundação de direito pontifício, a AIS ajuda os cristãos perseguidos e necessitados.

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