AIS: Os primeiros monges
Quem chega ao mosteiro de Estelí, na Nicarágua, fica deslumbrado com o silêncio dos claustros, dos corredores, das salas, da capela. É um silêncio enamorado de Deus. No edifício sem grandes ousadias que os monges transformaram na sua casa, há sempre alguém de braços abertos para acolher o visitante. Nos últimos tempos, infelizmente, por causa da pandemia do coronavírus, as portas do mosteiro têm estado fechadas…
Surpreende o silêncio e a afabilidade dos monges albertinos. Eles pertencem à única ordem contemplativa em toda a Nicarágua. Parece uma ousadia a simples existência deste punhado de homens num país que atravessa tempos difíceis, com uma profunda crise política e social. Logo depois do Haiti, ainda mal refeito do devastador terramoto de 2010, que causou mais de 230 mil mortos, a Nicarágua é o país mais pobre de toda a América Latina. É uma estatística que incomoda. Que perturba. A pobreza, que é normalmente laboratório de revoltas, tem sido ali, em Estelí, uma provação geradora de solidariedades. E o mosteiro tem feito parte, desde o primeiro instante, dessa cumplicidade que nasce também nos momentos difíceis. O povo pobre sentiu desde a primeira hora que o aparecimento da comunidade religiosa na sua terra era uma bênção. E desde a primeira hora que os monges, os cinco monges que ousaram estabelecer-se em Estelí, foram acolhidos como fazendo parte da família. Mas a crise económica que está a varrer esta região do globo e que se agravou brutalmente com a pandemia do coronavírus, veio alterar quase tudo. Os pobres tornaram-se ainda mais pobres e os visitantes que demandavam o mosteiro e que por ali ficavam como hóspedes para um tempo de oração e de aprendizagem interior, começaram a rarear. Por estes dias, o próprio mosteiro deixou mesmo de poder acolher hóspedes e, como se não bastasse tudo isso, todos os cinco monges contraíram o vírus e um deles, o Padre Valdivia, não resistiu mesmo à doença.
Novo prior
Estes são tempos difíceis para esta pequena comunidade religiosa na Nicarágua. Eram únicos. Agora são sobreviventes. Cada dia é um desafio que importa ultrapassar. Mas o futuro, que pode parecer sombrio não consegue esmorecer o ânimo destes homens devotos de Nossa Senhora. É o caso de Ezequiel Lopéz. Seis anos depois de ter iniciado a vida monástica, Frei Ezequiel tornou-se, no passado dia 21 de Fevereiro, um sábado, no novo prior do Mosteiro de Estelí. “O nosso carisma é ser comunidade, é fundamental na nossa sociedade ser comunidade”, diz López, que não esconde a responsabilidade de pertencer ao único mosteiro de vida contemplativa masculina em todo o país. “Os monges, além da oração, trabalham. E trabalham em primeiro lugar para os que batem à porta do mosteiro, para se confessarem, à procura de apoio espiritual, para assistirem à Missa ou até para um tempo de retiro.” São eles, os que batem à porta, que dão também ânimo à comunidade religiosa. São sinal de que os monges albertinos estão presentes e estão sempre de braços abertos a acolher. “Nós costumamos dizer que quem vem ao nosso mosteiro é Cristo. E seja quem for que atravesse o portão costuma falar da paz que encontra aqui, de como é bom estar aqui. Este é outro mundo, dizem. O apoio espiritual começa aí (...).” A Fundação AIS tem procurado apoiar esta tão singular comunidade religiosa. Uma das formas de contribuir para a subsistência deste punhado de monges na Nicarágua é através da celebração de Missas pelas intenções dos benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre. Os tempos estão difíceis neste país da América Latina, mas em Estelí, no mosteiro habitado por um silêncio enamorado de Deus, há uma oração permanente pelo fim da pandemia, pelo fim da crise. Uma oração