AIS: Uma vida com Maria
Fundou a Fraternidade das Servas de Cristo e deixou no Níger, um dos países mais pobres do mundo, a semente fecunda de uma obra que está a transformar vidas em África. A Madre Marie-Catherine faleceu em Maio aos 68 anos de idade, mas a sua memória vai continuar a inspirar todos os que, como ela, acreditam que o amor será sempre mais forte do que o ódio. Em 2017 ela esteve em Fátima.
Em Setembro de 2004, a Madre Marie-Catherine Kingbo fundou no Níger a Fraternidade das Servas de Cristo. Foi uma ousadia. Ela e outra religiosa, apenas duas mulheres, começaram um trabalho que parecia impossível. Ajudar as populações locais procurando melhorar as suas condições de vida. O facto de ser religiosa revelou-se a primeira dificuldade. O Níger é um país muito pobre e nos últimos tempos tem vindo a ser fustigado pelo ciclone do extremismo jihadista. Numa sociedade habituada a menosprezar a mulher, sempre que Marie-Catherine aparecia numa qualquer aldeia, a desconfiança instalava-se nos rostos, nas conversas, nos olhares. Foi preciso superar muitos medos e dúvidas para que, aos poucos, AS duas religiosas de sorriso meigo começassem a ser aceites. A primeira casa da congregação nasceu em Maradi. “Começámos a percorrer as aldeias para conversar com as populações a fim de conhecê-las melhor. Apercebemo-nos da precariedade em que vivia boa parte dos habitantes, em particular as mulheres e crianças.” Pragmática, a irmã percebeu que era preciso investir na educação, mas também na saúde, na formação. Era preciso fazer muita coisa para mudar a vida daquelas populações acorrentadas a uma tradição rígida. “Introduzimos um sistema de microcrédito, sem juros, com 1.900 mulheres, e um banco de cereais que poderia aliviar cerca de 2 mil famílias durante o período de escassez, ou seja, os meses em que a população deixa de ter comida após esgotarem-se os alimentos da sua única colheita anual…”
Uma imagem especial…
Aos poucos, as desconfianças foram-se atenuando. Em Julho de 2014, as irmãs receberam uma prenda especial na primeira casa da comunidade. “A minha família senegalesa enviou-me uma estátua de Nossa Senhora de Fátima…” Meio ano depois, a 1 de Janeiro, essa estátua da Mãe de Deus foi colocada numa pequena gruta, na casa, como elemento protector e inspirador. Quinze dias mais tarde, o jornal Charlie Hedbo, em França, publicava caricaturas do profeta Maomé. Quase imediatamente, um pouco por todo o mundo houve reacções de protesto contra a comunidade cristã. Foi o que aconteceu também no Níger. “A comunidade cristã foi vítima de agressões por parte de manifestantes que queimaram igrejas, escolas, casas de religiosas e cristãos, em Zinder e Niamey”, recordou a irmã. “A nossa comunidade estava a orar e a recitar o terço, como era hábito, diante da imagem de Nossa Senhora. Vivenciámos o Seu amor, pois Ela velava por nós, e fomos poupadas…” Aos poucos, inspiradas na Senhora de Fátima, as irmãs foram alargando as visitas, palmilhando quilómetros, ganhando a confiança de mais mulheres em mais lugares. Hoje, a Fraternidade está presente em cerca de 120 aldeias. Todos os anos, são alimentadas através da caridade destas destemidas religiosas mais de 23 mil pessoas. Apesar de todo o bem que foi sendo realizado junto das populações, as irmãs não foram poupadas à violência instigada pelos extremistas que têm vindo a ganhar cada vez mais espaço em África. Em Fátima, onde a irmã participou em 2017 na peregrinação internacional da Fundação AIS, falou disso também. A casa das irmãs foi apedrejada e até os muçulmanos que trabalhavam com as religiosas foram atacados. Face a esta situação, desde Outubro de 2014 dois agentes foram destacados para a casa das irmãs. A Madre Marie-Catherine faleceu em Maio mas a sua memória vai continuar a inspirar todos os que, como ela, acreditam que o amor será sempre mais forte do que o ódio.