AIS: No corredor da morte

Notícias 21 outubro 2021  •  Tempo de Leitura: 4

Durante longos oito anos, Shagufta Kausar e o seu marido Shafqat Emmanuel estiveram numa prisão sempre à espera do momento em que iriam executar as sentenças de morte de que estavam acusados. A história deste humilde casal é a prova de que, no Paquistão, a vida dos Cristãos às vezes não vale mesmo quase nada…


Em 2013, Shagufta e Shafqat Emmanuel viviam com os filhos na missão da Igreja de Gojra, no Punjab, quando algumas mensagens de texto com conteúdo considerado blasfemo foram enviadas a um clérigo local através de um telefone supostamente registado em nome de um deles. Apesar de reiteradamente se ter provado na Justiça que ambos eram analfabetos, que não sabem ler nem escrever, o Tribunal declarou-os culpados de blasfémia a 21 de Julho de 2013. Foi o início de um longo calvário que só terminou em Agosto deste ano com o Supremo Tribunal a decretar a inocência de ambos. O facto de terem sido ilibados pela Justiça não significou que tenham deixado de ser ameaçados, que tenham deixado de correr risco de vida. Prova disso, ambos estão agora num país europeu, como exilados, pois as ameaças dos grupos radicais paquistaneses são para levar muito a sério. Este caso faz lembrar o de Asia Bibi. Esta mulher cristã, mãe de cinco filhos, foi também acusada falsamente de blasfémia por, no caso dela, ter bebido um copo de água de um poço. Asia Bibi esteve também cerca de oito anos na prisão, tendo sido libertada em 2018, após absolvição decretada pelo Supremo Tribunal do Paquistão. Hoje vive com a família no Canadá, pois as autoridades do seu país não conseguiam também garantir a sua segurança. Tanto Asia Bibi como Shagufta e Shafqat Emmanuel vivem como refugiados longe da pátria, longe da família e amigos. É o preço a pagar por serem cristãos, por pertencerem a uma minoria religiosa que, no Paquistão, se confunde normalmente com os mais pobres e humildes da sociedade.

 

Cidadãos de terceira…

Joel Amir Sohatra, um antigo membro do Parlamento Provincial do Punjab e destacado militante cristão paquistanês, afirma que estes casos são a prova da discriminação a que está sujeita a comunidade cristã no seu país mas mostra-se esperançoso de que, a partir de agora, “o mundo comece a entender este tipo de problemas” e faça alguma coisa em defesa dos mais fracos da sociedade. “Peço, em nome da comunidade cristã paquistanesa e das minorias religiosas, que, pelo mundo inteiro mas sobretudo na União Europeia, ergam por favor a vossa voz…” Para Joel Amir Sohatra, a situação que se vive no Paquistão “é péssima” e os Cristãos estão a ser tratados “como cidadãos de terceira categoria…” Infelizmente, as estatísticas comprovam estas palavras. Só no ano passado, o Paquistão registou cerca de duas centenas de casos de blasfémia. Ou seja, há muitos Shaguftas, Shafqats e Ásias Bibi em risco de vida. Todos eles, depois de acusados de blasfémia, se conseguirem que os tribunais os venham a ilibar, possivelmente ao fim normalmente de muitos anos de prisão, o mais certo é terem de abandonar também o país para não serem apanhados por uma qualquer multidão enfurecida que queira fazer justiça pelas próprias mãos… A história de Shagufta Kausar e o seu marido Shafqat Emmanuel é a prova de que, no Paquistão, a vida dos Cristãos não vale mesmo quase nada…

Fundação de direito pontifício, a AIS ajuda os cristãos perseguidos e necessitados.

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