AIS: Um sinal de Deus
Um pouco por toda a Ucrânia, mosteiros e casas de religiosas têm sido transformados em lugares de abrigo para os refugiados de guerra. Mesmo mosteiros contemplativos. As irmãs abrem as portas das suas casas partilhando o que têm com quem chega, tantas vezes de mãos vazias e em lágrimas… Acolher quem precisa é também um sinal de Deus no meio do inferno da guerra.
São várias as comunidades religiosas femininas que abriram as portas dos seus mosteiros aos refugiados de guerra na Ucrânia. É o caso das Beneditinas de Slonka. Estas religiosas contemplativas privaram-se do silêncio e da solidão do mosteiro para acolherem pessoas que fugiram por causa da violência dos combates, dos bombardeamentos. Desde que começou a invasão das tropas russas, a 24 de Fevereiro, já dezenas de famílias passaram pelos claustros destas irmãs na região de Lviv. “É assim que vemos a nossa missão agora”, diz a Irmã Klara. Com a guerra tudo mudou. A calma e o silêncio do mosteiro foram substituídos pela agitação própria de um ajuntamento de pessoas. Como a Irmã Klara explicou a Maria Lozano, da Fundação AIS, a vida no mosteiro passou a ter outras rotinas, outras prioridades. As irmãs procuram envolver toda a gente nas tarefas diárias, seja a limpeza do mosteiro ou a confecção das refeições. Nada foi deixado ao acaso. Também na Arquidiocese de Lviv, as Irmãs de São José abriram as portas para acolher os que por ali têm passado, fugindo dos horrores da guerra. “Há pessoas a dormir em todos os cantos do mosteiro. Estão todos muito gratos pela oportunidade de se poderem lavar, de terem comida quente e de conseguirem descansar um pouco”, explica a Irmã Tobiasza. “Algumas destas pessoas passaram vários dias em caves ou em abrigos antiaéreos”, acrescenta a religiosa.
O caos depois dos mísseis
Outra casa das Irmãs de São José, mas na cidade de Stryi, também abriu as suas portas neste grande abraço de entreajuda da Igreja aos que fogem da guerra. “As irmãs prepararam um quarto para acolher uma família de duas crianças e uma avó. Com a ajuda de benfeitores, conseguiram comprar uma máquina de lavar roupa, um frigorífico, camas, e assim por diante. Todos os bens básicos para se poder viver. Um dos rapazes está doente e precisa de cuidados e comida especial”, explica a Irmã Tobiaszca. Todos os que batem à porta das irmãs trazem consigo histórias pesadas, difíceis, memórias que perdurarão provavelmente para sempre. É o caso de Roman e de Anna que, com os dois filhos, um rapaz de 7 anos e um bebé de apenas 1 mês de idade, se fizeram ao caminho chegando a Lviv, ao mosteiro das Beneditinas de Slonka. Vieram de Kharkiv. Ainda aguentaram 10 dias até que a situação se tornou intolerável e demasiado perigosa, especialmente para as crianças. Pouco antes de partirem, caiu um míssil no prédio onde viviam. Foi o caos. A casa estava destruída. Apanharam um comboio para Lviv. Chegaram a uma cidade em ebulição. Na primeira noite, Anna e as crianças conseguiram dormir no chão, numa casa de abrigo para mães e filhos, mas a situação era insustentável. Foi então que uma irmã, que por acaso passava por ali, lhes indicou o mosteiro das Beneditinas de Solonka. “Recordaremos sempre esse momento, e estaremos gratos pelo resto das nossas vidas”, diz Anna, explicando que, para si, o encontro casual com a irmã “foi a Providência Divina, foi um sinal de Deus…”. A Fundação AIS apoia directamente a subsistência de 144 irmãs em Lviv. Todas elas são um sinal de Deus num país em guerra.