Rui Valério, bispo das Forças Armadas, nomeado patriarca de Lisboa
Rui Valério, atual bispo das Forças Armadas, foi nomeado novo patriarca de Lisboa, sucedendo a Manuel Clemente no cargo e tornando-se o 18º sacerdote nas funções. O nome foi anunciado esta manhã pelo Vaticano no site oficial e toma posse a 2 de setembro, numa cerimónia marcada para as 11 horas.
O Papa Francisco, diz a nota do Vaticano, “aceitou a renúncia [das funções] de patriarca de Lisboa apresentada pelo cardeal Manuel José Macário do Nascimento Clemente” e “nomeou como patriarca de Lisboa o bispo Rui Manuel Sousa Valério”, atual bispo das Forças Armadas.
Também em comunicado, o patriarcado de Lisboa destaca “uma primeira mensagem à Igreja de Lisboa” em que Rui Valério sublinha a “intenção de escutar”, fazendo-o “sem deixar ninguém para trás”. O bispo referiu-se ainda à importância da participação dos jovens na vida da diocese, porque “sem eles a Igreja simplesmente morre”. Ideias que estão em linha com umas das principais notas do Papa Francisco da recente passagem por Portugal, em que repetiu inúmeras vezes que a Igreja é um espaço para “todos”.
“D. Rui Valério vai tomar posse da diocese no dia 2 de setembro, sábado, às 11 horas, na Sé Patriarcal, diante do Cabido. A entrada solene tem lugar no dia seguinte, Domingo, dia 3 de setembro, às 16 horas, na Igreja de Santa Maria de Belém (Jerónimos)”, refere a mesma nota do patriarcado, onde se lê que “o lema episcopal escolhido por D. Rui Valério é ‘In Manibus Tuis’ [Nas Tuas Mãos, na tradução do latim para português]”.
Manuel Clemente fala sobre um “pastor cordial e próximo”
Manuel Clemente, atual cardeal-patriarca demissionário, foi nomeado patriarca em maio de 2013 e chegou a cardeal dois anos depois, a 4 de janeiro de 2015. Manuel Clemente deixa as funções depois de, em julho, ter completado 75 anos, idade em que é obrigatório apresentar renúncia ao cargo (na verdade, até já tinha apresentado a renúncia ao Papa Francisco largos meses antes, em novembro de 2022, logo após a morte do até então bispo auxiliar de Lisboa, Daniel Batalha Henriques).
Numa mensagem em que saúda a nomeação de Rui Valério, o cardeal refere-se a “um pastor cordial e próximo” para definir o perfil do seu sucessor.
Também o Presidente da República assinalou a nomeação do novo patriarca de Lisboa, “agradece ao senhor D. Rui Valério a dedicação constante e qualificada com que exerceu as suas funções nos últimos cinco anos”, enquanto bispo das Forças Armadas. Marcelo “formula os melhores votos para a nova missão” de Rui Valério, deixando também uma nota de reconhecimento a Manuel Clemente, “cujo mandato de uma década termina com a Jornada Mundial da Juventude, momento de inequívoco significado nacional e projeção universal”.
Já em julho deste ano, Manuel Clemente falava sobre a sua saída das atuais funções apontando às responsabilidades que recairão sobre o escolhido pelo Papa Francisco para o patriarcado. “É absolutamente necessário olhar para Lisboa e esse olhar passa, com certeza, por quem tem de reorganizar o serviço episcopal. E não sou eu”, referia Manuel Clemente em entrevista à Agência Ecclesia. “É preciso alguém que reorganize a vida da diocese, em termos episcopais. E que também proponha ao Papa os seus colaboradores”, dizia ainda o até agora cardeal patriarca, esperando que o processo de substituição se fizesse “imediatamente”.
O bispo de Ourém que se sentia “envergonhado” com os casos de abusos na Igreja
Atualmente com 59 anos, Rui Valério é desde outubro de 2018 bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança.
Em entrevista à Rádio Observador, em dezembro de 2020 — ainda antes de começar um alargado trabalho de investigação sobre o problema dos abusos sexuais de menores no contexto da Igreja em Portugal —, Rui Valério assumia a “vergonha” pelos relatos que já então tinham vindo a público.
“É uma situação que nos envergonha, e a mim particularmente, por todas as razões e por mais uma. Desde o momento em que eu sei que a Igreja, os homens e as mulheres da Igreja, existem exatamente para suavizar, para responder, para ajudar o ser humano na esperança da sua vida, para os auxiliar, para reduzir o sofrimento, quando me é dito que a Igreja é a causa de sofrimento de alguém, isso é uma vergonha que me entristece e me deixa vermelho”, admitia na altura.
O agora nomeado patriarca de Lisboa — um nome anunciado apenas quatro dias após a passagem do Papa Francisco por Portugal, a propósito da Jornada Mundial da Juventude — entrou, em 1976, no seminário Monfortino, em Fátima, onde prosseguiu os estudos. Mais tarde, em 1984, ingressou no noviciado, em Santermo-in-Colle, em Bari (Itália).
Professou os votos perpétuos em outubro de 1990 e foi ordenado sacerdote no ano seguinte, em março, em Fátima. Rui Valério tem formação académica nas áreas da Filosofia e da Teologia. Em Roma, entre 1985 e 1987, estudou Filosofia, na Pontifícia Universidade Lateranense, e frequentou Teologia, na Pontifícia Universidade Gregoriana, onde concluiu a licenciatura, em 1992, com a especialização em Teologia Dogmática.
Na Bélgica, em Leuven, frequentou, entre 1995 e 1996, o curso de Espiritualidade Missionária, no Centre International Montfortain. Na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, em 1997, iniciou o Doutoramento em Teologia. Entre 1992 e 1993, foi capelão no Hospital da Marinha e, entre 2008 e 2011, capelão na Escola Naval.
Na Diocese de Beja, nas paróquias de Castro Verde, foi coadjutor, entre 1993 e 1995, e pároco, entre 2001 e 2007. No Patriarcado de Lisboa, foi coadjutor na Paróquia da Póvoa de Santo Adrião, entre 1996 e 2001, e foi nomeado, em 2011, pároco da mesma paróquia.
Rui Valério trabalhou ainda, durante alguns anos, na Formação dos Postulantes dos Missionário Monfortinos. Em 2016, foi nomeado pelo Papa Francisco como “Missionário da Misericórdia”, durante o Ano Jubilar.