São jovens, católicos e contam que se divertem a rezar

Notícias 25 abril 2017  •  Tempo de Leitura: 10

Em paróquias, no escutismo, em movimentos e universidades, nas igrejas e congregações, há jovens que seguem a prática religiosa. Não há números se sua participação aumenta ou diminui. Dizem que depende do sítio e da dinâmica. 

A Mensagem de Jesus, uma peça de teatro em que apenas se vê o branco das mãos, conquistou o júri do Got Talent há um ano e foi vice-campeão deste concurso televisivo. Levanta-te, assim se chama o grupo de jovens da Quinta da Princesa, paróquia da Amora, que pegou numa expressão artística e frases conhecidas para mostrar uma nova forma de evangelizar. Lucivânia Abreu, a mentora, quer manter na Igreja quem termina a catequese ou quem dela já se afastou. Este é um dos quatro movimentos juvenis da paróquia, incluindo os movimentos de acólitos e escuteiros.

Keila, Ariana, Micaela, Andreia e Melven são uma pequena parte dos Levanta-te que se juntam na Igreja Matriz da Paróquia de Nossa Senhora do Monte Sião, na Amora, para falar das suas motivações. E de como foram parar a um projeto, criado em 2010, "no dia de Pentecostes", o que Lucivânia Abreu faz questão de sublinhar. "Senti que Deus nos chama e nos impele a participar. Houve uma altura em que também estive mais afastada e regressei. Foi esse amor que senti que quis transmitir aos outros jovens", explica a ex-catequista.

Tem 36 anos, é a coordenadora e a mais velha de um grupo de 15 jovens, entre os 15 e os 19 anos, é também quem faz as coreografias. A peça A Mensagem de Jesus já existia mas aperfeiçoaram o conceito, a que juntam uma mão-cheia de temas, pensadas por Lucivânia e trabalhadas por todos os elementos do grupo. A mais recente chama-se "Onde Deus te levar".

Encontram-se aos domingos depois da missa, para "conviver e rezar", o que garantem fazer com gosto e alegria, Também participam em retiros, o que os leva a percorrer o país. Agora, depois do sucesso obtido no programa de televisão, também apresentam o seu espetáculo. Faltam as ilhas e o estrangeiro. "E o Pavilhão Arena", atira Lucivânia, expressando um sonho que seria o culminar do êxito do grupo.

Alguns dos elementos ainda estão na catequese, preparando-se para fazer o crisma, outros já fizeram todo o percurso. E há quem tenha vindo por curiosidade. "Estava com a minha mãe na paragem e uma senhora falou-nos neste grupo, que servia para evangelizar e também para conviver e sermos amigos, depois disse que havia um retiro em Lamego e que eu podia ir. A minha mãe de início não aceitou, mas eu disse que queria experimentar, vim, gostei e aqui tenho continuado", conta Melven Mavulule, 17 anos, aluno do 8.º ano.

Melven representa um jovem que seria o alvo principal do Levanta-te. "A intenção inicial era chamar os que estão mais afastados, o chamado resgate, mas também temos os que nunca saíram da igreja. A nossa área é a evangelização. Falamos sobre a vida e ao falarmos da vida estamos a falar de Deus", argumenta Lucivânia.

"Estava na catequese e pediram-me para ir à sala onde eles estavam para trazer o material que nos faltava. Reparei que estavam a rezar, perguntaram-me se queria rezar e acabaram por me convidar a entrar para o grupo", conta Andreia Lindo, 17 anos, 9.º ano, a única presente que não tem raízes africanas, pois a maioria está ligada a Cabo Verde. "Tenho de todo o país", diz a mentora.

Estão inseridos na Quinta da Princesa, um bairro de imigração, explica o padre brasileiro Geraldo Fimatto, desde setembro na paróquia de Amora, que conta com três igrejas. Acrescenta o padre que 50 % dos jovens têm origem africana, o que, segundo ele, "faz a beleza da comunidade, que é a sua grande diversidade". Frequentam a catequese 700 crianças, algumas também pertencem aos escuteiros. Com a entrada na vida adulta, "a maioria dos jovens afasta-se depois do Crisma".

Realidades diversas

Não existem estatísticas sobre os adolescentes e jovens envolvidos nas atividades das paróquias, realidades que apresentam um grau de participação muito variado, não se podendo dizer que há um afastamento geral dos mais novos, ressalva Filipe Teixeira, da assessoria do Patriarcado de Lisboa. "Existe um grande crescimento dos Núcleos de Estudantes Universitários e este crescimento tem-se mantido apesar da rotatividade de estudantes que existe em Lisboa. Muitos destes jovens têm outras experiências, das paróquias, dos movimentos juvenis, dos jesuítas, outros começaram nos núcleos. Em relação às paróquias, há de facto populações e comunidades muito envelhecidas mas há bastantes jovens na Igreja." Justifica que a situação tem que ver com dois fatores principais: a dinâmica de cada paróquia e a sua localização, zonas mais ou menos populosas. São 4378 as paróquias em Portugal, distribuídas pelas 21 dioceses dos católicos portugueses.

Universitários jesuítas

É de crescimento que fala o padre João Goulão, diretor do Centro Universitário Padre António Vieira (CUPAV), em Lisboa. "Temos crescido muito ao longo dos anos, também devido às várias gerações que por aqui vão passando e que se mantêm ligados durante a vida profissional. Por outro lado, os movimentos universitários têm crescido, o que muito se deve à Missão País (ver P&R)".

Os centros universitários jesuítas nasceram em Coimbra, em 1975. O CUPAV aparece nove anos depois, pela mão do padre António Vaz Pinto. É um espaço religioso de convívio e de estudo de alunos do ensino superior.

O padre Goulão gosta de lhe chamar "casa" e, de facto, assim parece. Uma grande vivenda no Lumiar, com salas de estar e de estudo, sem televisões, uma biblioteca, também a cozinha onde podem confecionar refeições. E não só. No dia em que visitámos as instalações, a mesa estava ocupada por animadores dos Campinácios, em homenagem ao seu patrono, Santo Inácio, que promovem atividades lúdicas para os alunos dos colégios jesuítas. Beatriz, Benedita, António, Vera, João e Isabel, todos universitários, fazem pequenos cartazes para convidar os alunos do São João de Brito, mesmo ao lado, a participar.

A habitação tem um jardim, vários anexos e, às quartas-feiras, ao fim do dia, enche-se de estudantes para celebrar a principal missa dos universitários. Vão entrando, alguns em animadas conversas, muita coisa para contar sobretudo depois das férias da Páscoa. A sala fica cheia, dois padres presidem à missa, envolvidos por jovens sentados no chão, orações que vão entremeando com canções acompanhadas à viola.

Conhecem-se alguns da escola e dos tempos da catequese, um ou outro acabou de chegar. Para esses, existem os animadores, anfitriões da casa e que, aqui, passam grande parte do tempo extracurricular. "Tentamos que se sintam bem, explicamos o espaço, mostramos as instalações", conta Miguel Viana, 21 anos, no 3.º ano de Engenharia e Gestão Industrial, no Instituto Superior Técnico. Tem uma história de conversão, classifica o próprio. "Tive uma educação católica, mas não tinha uma história de fé, não ia à missa. Converti-me no 10.º ano, no final do secundário."

Conta Miguel que pensou pela sua cabeça, que começou a dar mais atenção aos amigos que acreditavam em Deus. "Achei que o que diziam fazia sentido, que valia apena fazer parte desta comunidade." E não vê qualquer incompatibilidade entre a ciência, que estuda, e a religião, que pratica. "Pelo contrário, as ciências até me ajudam na minha relação com Deus."

Vive no Estoril e começou a frequentar o CUPAV logo quando entrou na universidade. Explica. "Quem vem pela primeira vez, em geral, vem à missa de quarta-feira, fiquei rendido. Pensava que era só rezar, que não havia esta parte de alegria, esta dinâmica."

 

[©Céu Neves | ©DN]

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