Indiferença que mata

Notícias 26 outubro 2017  •  Tempo de Leitura: 4

Estava na cidade do Cairo, a capital do Egipto, para recolher ajuda humanitária para os pobres da sua paróquia, quando foi esfaqueado em plena rua durante o dia. No entanto, ninguém fez nada para o ajudar. Esvaiu-se perante a indiferença dos que passavam. Era apenas um padre cristão…

 

Aconteceu há duas semanas, no mesmo dia em que a Fundação AIS apresentou em diversas capitais europeias – incluindo Lisboa – o mais recente relatório sobre a perseguição aos Cristãos no mundo. O Padre Samaan Shehata caminhava na rua, sozinho, no Cairo, a capital do Egipto, quando um homem se aproximou e, armado com uma faca, e desferiu diversos golpes no sacerdote. Foi durante o dia, mas não houve ninguém que tivesse parado por um instante sequer para ajudar aquele homem que jazia no chão, esvaindo-se em sangue. Ninguém. Talvez por ser padre, talvez por ser cristão. A indiferença de todos os que passaram pela rua e não estenderam a mão junto daquele moribundo parece ferir mais ainda do que os golpes de faca que acabariam por tirar a vida ao Padre Samaan. Ninguém o ajudou e a ambulância demorou mais de uma hora a aparecer e os paramédicos pouco ou nada fizeram para o reanimar. Os polícias foram mais rápidos, é verdade, e até conseguiram deter o homem que esfaqueou o sacerdote. Mas não o prenderam. Os agentes da autoridade consideraram-no mentalmente doente e, por isso, libertaram-no. Ninguém avaliou o seu estado. Nem médicos, nem psicólogos. Ninguém. Nem foi sequer presente a um juiz. Foi libertado ali mesmo, mandado em paz, de regresso a casa, de regresso à sua vida.

 

Ser cristão no Egito

 

O Padre Samaan Shehata morreu já no hospital, depois de ninguém lhe ter prestado socorro durante mais de 60 minutos. Morreu no mesmo dia, sensivelmente até à mesma hora em que a Fundação AIS apresentava em Lisboa o mais recente relatório sobre a perseguição aos Cristãos no mundo. Nem de propósito: um relatório que identifica o Egipto como um dos países em que a opressão aos Cristãos é considerada como “mais elevada”. O Padre Samaan foi assassinado por ser cristão. Apenas por isso. Nada mais. Para a polícia, tratou-se de um acto cometido por um louco. Por essa razão, o autor do crime foi absolvido de imediato. Para as pessoas que passavam pela rua onde o Padre Samaan foi assassinado, seria apenas um cristão. Apenas isso explica como ninguém teve misericórdia, ninguém soube ser samaritano daquele homem em sofrimento. Durante mais de uma hora, ninguém se mexeu, ninguém se comoveu, ninguém fez nada. Para todos os que passavam, indiferentes ao corpo a sangrar de Samaan Shehata, a vida de um padre copta no Egipto parece não valer nada. Infelizmente, este é, apenas, o mais recente caso de um ataque deliberado contra a comunidade cristã. Os sangrentos atentados no Domingo de Ramos, em Abril, em duas igrejas no Egipto, provocaram cerca de meia centena de mortos. Foi um ataque com um alvo bem determinado. Um mês depois, em Maio, terroristas atacaram um grupo de cristãos que se dirigiam em três autocarros, em peregrinação, para um mosteiro no deserto e obrigaram-nos a sair dos veículos. Os que se confessaram cristãos, mesmo com as armas apontadas às suas cabeças, foram assassinados de imediato. Nem as crianças escaparam. Mais uma vez, o alvo do ataque estava bem determinado. A morte do Padre Samaan é só o mais recente episódio da profunda violência que tem atingido a comunidade cristã no Egipto. Este padre estava no Cairo a pedir ajuda para os mais pobres da sua paróquia. Foi morto à facada. Esvaiu-se  perante a indiferença dos que passavam. Era, apenas, um padre cristão...

Fundação de direito pontifício, a AIS ajuda os cristãos perseguidos e necessitados.

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