O essencial e o acessório

Liturgia 20 janeiro 2018  •  Tempo de Leitura: 3

DOMINGO III COMUM Ano B

Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus.

Arrependei-vos e acreditai no Evangelho.

Mc 1, 14

 

Há quase um ano os estudantes do nosso país, a propósito do drama dos refugiados, foram convidados a pensar no que levariam numa mochila se tivessem de partir de repente por causa da guerra. Em acidentes ou desastres inesperados percebemos que o mais importante são as pessoas que amamos (não as coisas ou o que chamamos “bens”) e, se é possível, são para elas as últimas palavras. No exercício do professor que ia colocando pedras maiores, outras mais pequenas, gravilha, areia e por fim água, para encher um frasco, os alunos aprenderam que se não se coloca em primeiro lugar no tempo que nos é dado o que é essencial, depois “já não cabe”! 

 

S. Marcos, considerado nos estudos bíblicos, o primeiro a escrever o evangelho, “a Boa notícia”, de Jesus, dá-nos hoje as suas primeiras palavras, como um programa. Estamos habituados que assim seja no início de um curso de estudos, de uma vitória política, de uma nova presidência de qualquer organismo. O programa de Jesus é o Evangelho de Deus. É o tempo novo e a chegada do Reino, que não é um território, com fronteiras ou alfândegas, e também não é nenhum poder material ou violento. Não é fruto de conquistas humanas, mas dom generoso e abundante de Deus, para todos, em todos os tempos, e em todos os lugares. É o melhor dom acompanhado de um radical convite: convertei-vos e acreditai no Evangelho. Converter, a “metanoia” grega, não é tanto arrependimento, penitência ou tristeza pelos erros. É mudança de rumo, de horizonte, e de mentalidade. Reclama atitudes novas e criadoras, vida em vez de mortes antecipadas. E unida ao “acreditar no Evangelho”, projecta-nos para a confiança nas boas notícias que vêm de Deus, para Jesus que faz novas todas as coisas, para o essencial que será sempre surpreendente.

  

Encontramos o convite à conversão em muitas propostas de vida: mudança de hábitos alimentares, atenção ao desperdício e ao excesso de consumo, domínio sobre apetites supérfluos, vigilância sobre as dependências, valorização do exercício físico e práticas saudáveis. Têm em comum valores de saúde física e espiritual significativos. Que outras possibilidades de conversão poderíamos descobrir nos nossos hábitos e rotinas? Que conversão nas relações familiares e de vizinhança? Que conversão na educação dos filhos (sem que sejam precisas “super-nannys” para substituir pais)? O que há a converter nas dependências eletrónicas e virtuais? E no trabalho, na justiça, no uso do tempo e dos dons que todos têm? Haverá algum campo humano sem necessidade de conversão?

  

Claro que a conversão que Jesus pede vai ao fundamental do sentido da vida. E ele não passa por tantos pequenos “essenciais” que até parecem acessórios?

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