Nada ter para tudo dar

Liturgia 17 julho 2018  •  Tempo de Leitura: 3

Os finais de junho e inícios de julho são tempos felizes de ordenações e missas novas. Pelo menos no nosso país, devido aos ritmos escolares e pastorais, estas celebrações têm o sabor de uma igreja em movimento e renovação de servidores. E a liturgia está em sintonia com estas festas ao apresentar Jesus a enviar os discípulos para uma primeira missão com características singulares: anunciar Jesus, com o seu poder de curar e libertar, convidando à conversão, livres de meios que podem prejudicar a caminhada ou convidar à instalação, preparados para serem rejeitados. Feliz programa de sempre, e tão indicado aos novos evangelizadores. 

  

O envio dos discípulos, colocado por São Marcos entre a rejeição de Jesus pelos seus conterrâneos e o martírio de João Baptista parece colocar a missão entre a rejeição e o martírio. Ao pedir-lhes que não levem nada de mais para o caminho, Jesus sublinha a pobreza dos meios para valorizar a grandeza do anúncio. O poder de curar e libertar não depende nem dos discípulos nem das coisas que tiverem para dar. Eles levam “nada” para poderem dar “tudo”, que é a Boa Nova do amor de Deus.

  

Contava um amigo meu como este envio de Jesus se parecia com a história do frade e da “sopa de pedra”. Perante a recusa de alguém lhe dar um pouco de alimento, o frade tinha instalado uma dinâmica de solidariedade a partir da ideia de fazer uma sopa com uma pedra. Alguém trouxe a panela e a água, outro ofereceu o sal e o azeite, mais alguém trouxe umas batatas, e vieram umas couves, um pouco de toucinho e um chouriço, e assim por diante. No final, a ingratidão inicial tinha dado lugar à partilha de todos. E com que encanto saborearam o delicioso pitéu! Mas, como comparar isto com o envio dos apóstolos? Dizia o meu amigo: “A pedra é como a Boa Nova que Jesus traz; faz nascer a alegria de partilhar, desacomoda cada um da sua paralisia egoísta, convoca todos para um projecto comum, novo e feliz, parte do pouco ou quase nada que cada um tem e é capaz de dar, do nada torna-se possível o tudo”.

  

É preciso aprender sempre de Jesus o seu jeito itinerante de ir ao encontro de todos. Não é a abundância de meios que produz grandes resultados, mas a força do Evangelho. Quando as pessoas valem mais do que as estruturas, quando a alegria e a autenticidade valem mais do que o cinzentismo e os dogmas, quando a cura e a libertação valem mais do que os discursos, os milagres acontecem. Pois é Deus quem os faz, sempre que não complicamos demais. Felizes novos padres e diáconos destes dias de junho e julho: nada queiram ter, além do amor de Deus, para que o tudo que Ele dá, possa passar pelas vossas palavras e mãos!

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