Que luz para as nossas ruas?

Liturgia 11 dezembro 2018  •  Tempo de Leitura: 3

Sempre foi uma tradição lisboeta ir ver as luzes de Natal à Baixa e a outras ruas que se iluminam em Dezembro. Percorro-as também e invade-me, aos poucos, uma tristeza. Há luzes e muitas luzes, bolas e figuras geométricas, fachadas com faixas de alto a baixo, uma e outra árvore de Natal, árvores vestidas de luzes e estalactites luminosas a cair delas. Das imagens do presépio, só se salvou a estrela. E presépios de rua, para além dos que estão lá todo o ano, sob beirais e entre cartões, ainda não vi nenhum. Será que as estrelas poderão indicar o caminho para Aquele que deu origem ao Natal? 

 

De caminhos a preparar e veredas a endireitar, de montes e vales a aplanar se faz o anúncio inicial de João Baptista. Parece um ministro de obras públicas, atento às vias de comunicação que aproximam as pessoas e libertam do isolamento. O percursor retoma o apelo antigo e sempre novo de Isaías: Deus vem até nós por caminhos novos, e eles também dependem de nós. As vias abertas para passar os poderosos de todos os tempos, por onde desfilam os exércitos da guerra e o progresso dos privilegiados, e onde hoje correm os rios do dinheiro e a embriaguez do consumo, não levam ao encontro das pessoas. Os grandes da política e da religião daquele tempo já têm os seus caminhos habituais; João Baptista fala do caminho que vai direito ao coração, aquele em que a salvação pode ser oferecida.

 

Com mais ou menos presépios, luzes e presentes, interessa perguntarmo-nos pela presença de Jesus na vida dos que acreditamos n’Ele. Não como uma história bonita, ou uma mensagem moral. Nem como um hábito que se repete ou um dogma que se impõe. Que caminho fazemos com Ele e como O acolhemos nas nossas veredas? Saboreamos a sua salvação, que é dizer, o seu amor, e isso vê-se naquilo que fazemos? Não podemos alimentar-nos de uma doutrina religiosa; seríamos “funcionários” mas não amigos, nem irmãos! É preciso tempo e espaço para experimentar a sua presença em mim e nos outros. É Jesus, e com Jesus, que tudo se transforma!

 

Dá trabalho o Advento. E não é a azáfama de procurar os presentes nem de preparar a ceia. Trata-se de levar mais luz aos caminhos que ainda deixam as margens na escuridão e não se aventuram às periferias. Levar mais luz às trevas de isolamento e exclusão, dos que vivem sós, dos que são descartados do trabalho e duma dignidade de vida. Assumir a conversão que interpela o excesso de uns com a miséria de outros e compromete em mudanças significativas. Quantas ruas iluminadas ocultam montanhas de escuridão? Como vai lá chegar a luz que se chama Jesus?

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