Conversão e alegria
DOMINGO III DO ADVENTO Ano A
“És Tu Aquele que há-de vir,
ou devemos esperar outro?”
Mt 11, 3
Conversão e alegria parecem duas realidades que se opõem. E estamos tão enganados quando assim pensamos. Pois a conversão acontece por causa da alegria, em ordem à alegria, alimentada pela alegria. E coincidem as duas em S. João Baptista. Ele que saltou de alegria no seio de sua mãe quando Maria, grávida de Jesus, a foi visitar, e apontou Jesus como “Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo” nas margens do Jordão. Os convites a preparar o caminho do Senhor, a converter os corações e as obras são o essencial da voz de João Baptista. S. Agostinho num dos seus sermões, põe João a falar. “Sou a voz que se faz ouvir apenas para introduzir a palavra no vosso coração; mas Esta não se dignará entrar onde pretendo introduzi-la, se não preparardes o caminho.”
É-nos difícil entender a sua alegria em dizer: “devo diminuir para que Ele cresça”. Porque nos habituamos a tantas alegrias fugazes, feitas de brilhos que não têm luz própria, ou de coisas que se gastam rapidamente. Ou então só ansiamos pela alegria dos conquistadores, dos sortudos, dos famosos. A alegria não se faz com mais mas com melhor, não se faz com a abundância mas com o essencial, não é prémio que se conquista mas presente que se oferece.
Não nos relatam os evangelhos outros encontros de Jesus com João, além daquele no meio do Jordão. Podemos imaginar que, também para João, Jesus é surpreendente. Não encarna muitas das características do Messias esperado, não enfrenta o poder com um projecto revolucionário, não parece ter pressa em restabelecer o reino de Israel. À tentação de “encaixarmos” Deus nos nossos critérios de salvação, não nos responde Ele sempre com surpresa? João precisa também de ser evangelizado, receber a “boa nova” que é também para nós: Deus não revela o seu poder como nós, que dominamos, castigamos, e ficamos por cima. O seu poder revela-se na cura, na libertação do mal, no perdão, na bondade, na esperança. Tantas vezes ainda nos é difícil acolher Deus como Ele é, e não como gostaríamos que fosse!
Por isso a conversão começa por dentro. Como João na prisão, e nós nas prisões de mentalidades e preconceitos, precisamos ver onde Jesus continua a dar vista aos cegos, ouvidos aos surdos, cura aos leprosos, pernas aos coxos, vida aos mortos e boa nova aos pobres. Sim, onde e em quem muitas vezes não esperamos é que a surpresa da graça produz frutos de enorme alegria. Precisamos aprender com João Baptista que não basta apontar Jesus: é preciso entrar na surpresa e na alegria de fazer como Ele os sinais de vida nova. Então não são tão próximas a conversão e a alegria?