Maior que o nome
DOMINGO II COMUM Ano A
“Eis o Cordeiro de Deus,
que tira o pecado do mundo.”
Jo 1, 29
O nome é sempre um pórtico. Nunca escolhido por nós, vestimo-lo com maior ou menor gosto ao longo da vida. Somos sempre mais do que um nome, por vezes escolhido como um desejo e uma missão. Serve para nos adentrarmos, ou não, nos territórios interiores que são a alma de cada pessoa, e, humildemente, irmos conhecendo como cada um é único e extraordinário. Conhecer é a grande aventura, e precisamos avançar nela descalços, guiados pela mão e pela voz de quem nos permite tal privilégio. O próprio Deus, cujo conhecer e amar são coincidentes, é paciente para esperar que o convidemos a entrar!
São muitos os “nomes” atribuídos a Jesus nos Evangelhos: Senhor, Mestre, Cristo-Messias, Filho de Deus, filho do Homem, filho do carpinteiro, cordeiro de Deus, Emanuel, … e poderíamos continuar com muitos outros em todo o novo Testamento. Mas no início da sua vida pública, João Baptista, anuncia-o como Cordeiro de Deus. A um povo que tinha como festa principal a Páscoa, em que um cordeiro era imolado e comido em família, e ecoava no coração de muitos o anúncio do Servo de Deus que carregava os pecados do povo, como dócil cordeiro levado ao matadouro, este anúncio era marcante. O nome e a missão são coincidentes em Jesus. A nova criação precisa de homens e mulheres novos, que, com coração de filhos, inteiros no seu “sim” a Deus, livres da fatalidade do pecado, queiram viver e amar como Jesus. E seremos conhecidos pelo seu nome: cristãos!
A riqueza do nome “cordeiro” é sintetizada assim por D. António Couto: “Cordeiro diz-se na língua aramaica, língua comum então falada, talya’. Mas talya’ significa, não só «cordeiro», mas também «servo», «filho» e «pão». Aí está traçada identidade de Jesus.” Chamamos a Jesus o que João Baptista testemunhou d’Ele junto ao Jordão, mesmo repetindo que não O conhecia. Não O conhecia e sabia o necessário para O reconhecer e indicá-l’O. Foi capaz de ver como o Espírito Santo não só desceu, mas permaneceu n’Ele, como mais tarde será soprado sobre os apóstolos e descerá como línguas de fogo no Pentecostes. É a permanência do Espírito que faz a nova criação, e renova tudo e todos.
Ao partir o pão consagrado, em cada eucaristia, dizemos em litania: “Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo; tende piedade de nós… dai-nos a paz”. O Cordeiro que é Servo, e que é Filho fez-se Pão. Não nos deixou num espiritualismo diáfano e ousou ultrapassar a lógica que separa o espírito da matéria. Maior que os nomes é a comunhão de pessoas. Não confusão, nem alienação, nem absorção. A unidade dos que nos chamamos cristãos não se faz no caminho de uma maior comunhão?