Solenidade do Corpo de Deus
Anualmente, os católicos comemoram, no mês de Maio ou Junho, sempre numa quinta-feira, a data da Instituição da Eucaristia, a festa do Corpo de Deus, antes chamada "Corpus Christi".
A Igreja celebra, desde o século XIII, essa festa como participação popular no mistério daquilo a que os Santos, os Padres da Igreja e os Teólogos chamaram "sol dos sacramentos".
No ano de 1246, Santa Juliana iniciou na sua comunidade de religiosas, em França, uma celebração em homenagem ao Corpo de Deus, presença real no sacramento da Eucaristia. Foi a primeira procissão, em âmbito regional. A adoração eucarística não era muito usual em França, obscurecida pelas heresias cátaras, valdenses e albigenses, e também pelo secularismo mundano.
O teólogo francês Bengário de Tours (século XI) e a seita dos cátaros negaram a presença real de Cristo na Eucaristia. Em contrapartida a essas heresias, aconteceram sinais miraculosos em toda a Europa, fazendo explodir a devoção à Eucaristia, como presença real. Há várias maneiras de a Igreja professar essa crença, como a lamparina que indica a presença de Cristo; a elevação da hóstia e do cálice, na consagração; os tabernáculos, altares e paramentos específicos e ricamente ornados; confrarias e irmandades eucarísticas; congregações religiosas que têm como centro a adoração do Santíssimo Sacramento; congressos eucarísticos nacionais e internacionais, desde o século XIX até hoje, etc.
Tudo isto é feito para professar e proclamar a presença real de Cristo na Eucaristia. Atribui-se a Santo António de Lisboa (+1231), quando de suas pregações naquele país, o surgimento de uma consciência quanto à presença real de Cristo sob as espécies de pão e vinho. Uma vez, o santo pregava em Toulouse, também na França (há quem fale em Rímini), a respeito da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento do altar. Um ateu, de nome Bonillo, duvidou e lançou um desafio: só acreditaria se sua mula se ajoelhasse diante do ostensório. Frei António ampliou o desafio, mandou que deixassem o animal sem comer três dias e, no final deste tempo, lhe fosse apresentado um monte de erva e, ao lado, a Eucaristia. No final do terceiro dia, a mula foi solta e, passando pelo monte de feno e aveia, foi ajoelhar-se na frente da Eucaristia.
Esta história encontra-se registada na Legenda Rigaldina, do século XIV. A iniciativa de Santa Juliana pode ter sido decorrente da semente deixada por frei António naquela região, vinte anos antes. Festa Universal Posteriormente, em 1264, o Papa Urbano IV estendeu a toda a Igreja Universal do Ocidente a festa comemorativa ao Corpus Christi, com celebração especial e procissão festiva. Para tanto, incumbiu Santo Tomás de Aquino de organizar a festa. Nessa ocasião, o "doutor angélico" compôs o hino "Tantum Ergo Sacramentum".
Com instruções especificas, própria das culturas medievais, a festa deveria ser celebrada com luxo nos paramentos, vasos e objetos sagrados, bem como nos trajes populares. Esse luxo, hoje, já não quer dizer pompa ou ostentação, mas louvor e adoração ao mistério divino. Depois do concílio Vaticano II, a Igreja celebra o Corpus Christi como a festa do "Corpo e Sangue de Cristo", numa alusão clara ao inestimável dom da eucaristia.