Esperar é sair ao encontro

Liturgia 8 novembro 2020  •  Tempo de Leitura: 3

DOMINGO XXXII COMUM

“Vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora.”

Mt 25, 13

 

 

Somos seres apressados. Lidamos mal com a espera, com o tempo que algumas coisas demoram a fazer-se, com as senhas e as filas de qualquer espécie (a do lado parece sempre ir mais depressa do que a nossa). Sim, há muita lentidão em certas coisas e a burocracia da vida parece ter os seus especialistas. Buscamos a eficiência e a rapidez, o lucro fácil e o imediato, e aquilo que demora um pouco mais começa a enfraquecer a nossa capacidade de resistência e a fidelidade ao compromisso. Oscilamos entre “quem espera sempre alcança” e “quem espera, desespera”. A dolorosa pandemia que vivemos não revela tantas dificuldades em assumirmos atitudes que exigem resiliência e esperança?

 

São numerosas as passagens dos Evangelhos em que Jesus convida à vigilância, à leitura dos sinais dos tempos, à atenção voltada para o futuro, a estar preparados, ao anúncio da vindo Filho do Homem. Não são anúncios de desgraças nem sementeira de medos; pelo contrário, são convite a viver despertos, de olhos abertos e atentos, com corações inteligentes e generosos para acolher e ir ao encontro. Mesmo perante os sofrimentos e desaires, as suas palavras ecoam: “Não tenhais medo”, “A paz esteja convosco”. É uma vigilância cheia de esperança. Para aprender com os acontecimentos e estar prontos a responder com sabedoria ao inesperado e à incerteza.

 

As jovens de candeias acesas que esperam o esposo para o acompanharem ao banquete falam de nós, da Igreja, do mundo que espera a felicidade. A noite que alarga a espera pode fazer-nos adormecer. Mas a vinda do esposo é certa. E teremos azeite na candeia da nossa vida para iluminar o seu caminho? Este azeite que adverte para o perigo de vivermos de modo inconsciente, num “vai-se andando” sem fulgor nem encanto, “vivendo porque a vida dura” (F. Pessoa), correndo atrás de fogos-fátuos que nos prometem felicidades fáceis e vazias. Como nos ilumina o “fogo” que Jesus veio lançar? Que sentido tem conservar uma fé gasta, que não move ao encontro com Jesus? Se temos candeias acesas, a melhor espera é sair ao encontro. Esperamos sintonizados com os sofrimentos e os desafios do mundo, levando nas nossas candeias a luz que é Jesus Cristo.

 

A esperança cristã não é passiva. Não é demissão, mas compromisso. Sabemos com quem nos vamos encontrar. Porque Ele mesmo já veio ao nosso encontro. Que o seu nome é Pai e Amigo. É Amor. No tempo que nos é dado, somos responsáveis pelo cuidado do mundo e pela felicidade dos outros. A nossa brotará das sementes que lançarmos. Da beleza que ajudarmos a revelar-se e daquela que também criarmos. Esperamos de coração escancarado. Em saída para o encontro.

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail