É urgente

Liturgia 24 janeiro 2021  •  Tempo de Leitura: 4

DOMINGO III COMUM Ano B 

“Eles deixaram logo as redes 

e seguiram Jesus.” 

Mc 1, 18

 

 

 

Há uma urgência que invade o nosso tempo como não ousávamos imaginar. Vivíamos marcados pela imediatez e o frenesim de várias coisas e a pressa parecia palavra de ordem. Mas a urgência de actuar bem, na batalha que há quase um ano travamos contra a pandemia do Covid-19, deu a esta palavra um sentido mais profundo. Estamos em “estado de urgência”, dos hospitais às nossas casas, em que a responsabilidade de viver não admite atraso nem adiamento: nas atitudes responsáveis, no cuidado de um doente, numa palavra de esperança e de conforto, num trabalho bem feito, um segundo, um minuto, um dia são preciosos. E o reino de Deus é também assim. O que não fizermos hoje não será feito por ninguém. O egoísmo e o acomodamento são escolhas de morte!

 

Enquanto os cristãos de Corinto, a quem escreve S. Paulo, são convidados a reconhecer que “o tempo é breve”, os habitantes de Nínive convertem-se “logo” ao anúncio de Jonas, e Pedro e André “deixaram logo” as redes para seguir Jesus. Não há tempo para adormecer nem calçar as pantufas quando Deus chama. A procura do sentido da existência e o modo de a viver plenamente implicam decisões corajosas e riscos que se abraçam. No chamamento à vida já isso está presente; como não estaria no chamamento a amar e salvar outros? Escreveu Lygia Fagundes Telles: “Na vocação para a vida está incluído o amor, inútil disfarçar, amamos a vida. E lutamos por ela dentro e fora de nós mesmos. Principalmente fora, que é preciso um peito de ferro para enfrentar essa luta na qual entra não só o fervor, mas uma certa dose de cólera, fervor e cólera. Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas.”

 

Jesus chama a viver, a pormo-nos em marcha, a convertermo-nos, a segui-l’O, a falar em seu nome, a amar e servir os pobres. Não propõe um ensino de auditório, com lições para os discípulos repetirem. É “formação na acção”, treino no quotidiano da vida, nas “batalhas contra o mal”, sem “almofada” para reclinar a cabeça. Vejo a multiplicação de mãos e de corações dos profissionais de saúde, nestes dias aflitos e dolorosos, e pergunto se teriam imaginado que seria assim a sua vocação de salvar vidas? E os cuidadores, formais e informais, profissionais ou familiares, que em tantas casas e lares conjugam o verbo “amar” em todos os tempos e modos? E os que assumem responsavelmente o perigo do contágio sem desistir de usar bem as máscaras, de higienizar mãos e superfícies, de manter distância social? A vocação a cuidar da vida não é também religiosa?

 

Por estes dias rezamos pela unidade dos cristãos, sob um lema tirado da alegoria da videira: “Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos” (cf. Jo 15, 5-9). É urgente a união no amor de Cristo que nos responsabiliza uns pelos outros. É urgente deixar as redes dos interesses miudinhos e egoístas de cada um. É urgente não deixar para amanhã o bem que se pode fazer hoje. Ainda que doa!

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