Livro da semana: «Perdão e esperança - Restaurar o tempo»
«O perdão abre portas dentro de nós. E então renunciamos a carregar os pesos de ontem, descobrindo antes as asas de hoje».
José Tolentino Mendonça
Na Quaresma somos convidados à reflexão, à conversão e à reconciliação da nossa relação com Deus, com o outro, e com nós próprios.
Esta obra convida o leitor a meditar sobre dois temas centrais à Humanidade – “o Perdão” e “a Esperança” –, repercorrendo as dimensões do tempo: “o perdão, como libertação do presente da hipoteca do passado, para que se possa lançar nos espaços do futuro, e a esperança, como impulso para um horizonte futuro que encontra no seu próprio passado as razões capazes de transformá-la em qualquer coisa diferente de uma enganosa ilusão”.
O Autor defende que a dinâmica cristã de relação pressupõe como primeiro passo, a consciência e o “reconhecimento do facto de que nós, antes de mais, fomos perdoados, de que o perdão nos precede e nos constitui naquilo que somos”, pelo que o perdão nos é gratuitamente oferecido. Perante o dom da gratuidade há que ter a capacidade de “deixar-se perdoar e perdoar-se a si próprio, perdoar ao outro”. Contudo, para que possa existir perdão há que parar, refletir e fazer uma corajosa viagem à memória do passado de forma a discernir sobre aquilo que presentemente nos incomoda e nos provoca mal-estar “«A memória das injúrias [o rancor] é […] veneno da alma, verme roedor constante, confusão da oração, perda da caridade, cravo afincado no coração, dor aguda, amargura voluntária»”. Neste sentido, o perdão é a chave que nos liberta do rancor e nos abre a porta para a reconciliação.
Nesta obra, somos confrontados com a necessidade de “aprender a esperar” de forma a ter discernimento e critérios que não transformem a esperança num desespero ou numa ilusão. A esperança, de uma forma lúcida e consciente, deve primeiro que tudo confrontar-se com o passado, reformulando-o para que seja permitido percorrer o caminho presente e que sejam reveladas as possíveis perspetivas quanto ao caminho futuro.
A verdadeira esperança é, contudo, um dom acolhido, “dom da Palavra do Senhor que se faz profecia nos lábios de quem a sabe escutar; dom da Palavra por excelência que, no fim dos tempos, voltará como Aquele que vem, para recapitular tudo em si”.
Sabino Chialà recorre, neste ensaio às palavras dos antigos Padres da Igreja, do Antigo e do Novo Testamento, e do pensamento filosófico grego, medieval e moderno, através de citações, oferecendo ao leitor, não apenas uma perspetiva cristã, mas universal.
Para uma maior compreensão da obra, sugerimos a seguinte citação de Santo Agostinho:
“«[Não] se pode dizer com propriedade: há três tempos, o passado, o presente e o futuro; mas talvez se pudesse dizer com propriedade: há três tempos, o presente respeitante às coisas passadas, o presente respeitante às coisas presentes, o presente respeitante às coisas futuras [praesens de praeteritis, praesens de praesentibus, praesens de futuris]. Existem na minha alma estas três espécies de tempo e não as vejo em outro lugar: memória presente respeitante às coisas passadas, visão presente respeitante às coisas presentes, expectação presente respeitante às coisas futuras».”
Informação disponível sobre o autor à data da edição desta obra:
“Sabino Chialà é monge de Bose, especialista no mundo bíblico e no Oriente cristão. Estudou, em particular, Isaac de Nínive e a literatura siríaca, além dos contactos entre o mundo cristão oriental e o Islão. Eis alguns dos seus livros: I detti islamici di Gesú [Os ditos islâmicos de Jesus] (2009); Silenzi. Ombre e luci del tacere [Silêncios: sombras e luzes do calar] (2011) e L’uomo contemporaneo. Uno sguardo cristiano [O homem contemporâneo: um olhar cristão] (2012).”
Índice:
Introdução | Primeira parte – O Perdão | 1. A dificuldade de perdoar: Dom e gratuidade; A exigência de justiça; Um renascimento possível; Experiência de morte e morte física | 2. A dinâmica do perdão – Deixar-se perdoar e perdoar: Reconhecer o perdão de Deus; Deixar-se perdoar e perdoar-se a si próprio, Perdoar ao outro | 3. O êxito do perdão: Libertação do rancor; Franqueza na oração | Segunda parte – A Esperança | 4. No presente: a audácia do quotidiano – O risco da evasão; Fermento e sabor da vida quotidiana; Necessidade da audácia | 5. No passado: a memória de uma promessa – Não é otimismo; Promessa já parcialmente cumprida; Necessidade da memória | 6. No futuro: a espera do cumprimento – Não é ilusão anestesiante; Espera daquele que vem e profecia; Necessidade da perseverança | Bibliografia essencial
Público-alvo: Jovem/Adulto
Ficha técnica:
Título – “Perdão e esperança - Restaurar o tempo”
Autor - Sabino Chialà
Editor – Paulinas Editora, 1 ed. Fevereiro 2017, 96 págs.
Coleção – Grão de Mostarda
ISBN: 978-989-673-559-3