Livro da semana: «Quebrar as cadeias»

Livros 1 agosto 2018  •  Tempo de Leitura: 7

A obra “Quebrar as cadeias” consiste no testemunho, coerente e destemido da irmã Eugenia Bonetti, uma religiosa italiana que tem lutado, no seu país, pela dignidade das mulheres que são traficadas, exploradas e escravizadas para a prostituição.

 

Este livro procura abordar o flagelo da prostituição, lançando um desafio à sociedade: não se pode continuar a viver de forma indiferente perante esta realidade; apela a uma revolução de mentalidades e aponta soluções. Ao longo da obra é possível perceber como se processa o tráfico de mulheres desde os países de origem, as redes mafiosas, dando-nos uma noção, da forma como elas operam, e também fala sobre os homens que as procuram. Não pretende dar respostas fáceis, procura perceber as causas e as consequências desta tragédia quando afirma:

 

“Nas nossas sociedades modernas, milhares de pessoas vivem nas margens, forçadas a ter uma rua como casa: são os sem-abrigo, os refugiados, os drogados, as prostitutas e as crianças abandonadas. A sua presença testemunha a existência de graves desigualdades num mundo corrupto e fragmentado como é aquele em que vivemos. Estas novas pobrezas pedem-nos urgentemente uma resposta, e devemos ser conscientes de que elas não têm só raízes económicas, mas derivam também do declínio dos valores morais e da perda da dimensão humana e espiritual da vida. Lamentavelmente, vivemos num sistema cada vez mais materialista, dominado por uma cultura do lucro, da aparência e do oportunismo, que nos faz procurar acima de tudo o prazer individual e nos impele para o lucro a qualquer preço. A exploração da mulher e das crianças, em particular pela indústria do sexo, representa o testemunho mais terrível do nível de degradação extremamente grave e vergonhoso a
que chegámos.”

 

“Deveria ser dada uma atenção especial ao mundo da «procura». Os nossos homens e os nossos rapazes deviam tomar consciência das suas responsabilidades, quando procuram sexo pago com mulheres traficadas (muitas delas menores). Com a sua escolha apoiam e alimentam este enorme mercado e tornam-se cúmplices de uma violação dos direitos humanos. As próprias mulheres repetem-nos muitas vezes, na rua: «Nós não estaríamos aqui na rua, se ninguém procurasse o nosso corpo.» As multas não são solução para o problema; é preciso um programa de educação sexual dirigido sobretudo aos jovens. A família, a escola e a comunidade cristã têm um papel específico na formação, na correção de ideias ou hábitos erróneos que destroem a personalidade do indivíduo e impedem que as pessoas aceitem a sua sexualidade e saibam gerir as suas emoções. Neste sentido, também os meios de comunicação têm um papel igualmente fundamental: deveriam apresentar com objetividade a situação que aflige milhares de mulheres, e dar voz a quem não a tem, sem qualquer compromisso. Deveriam sobretudo deixar de apresentar os corpos femininos como mercadoria à venda, e com a exaltação exclusiva da beleza física em detrimento de todos os outros valores.”

 

Este livro é mais uma luz que permanece acesa na luta pela sensibilização contra o tráfico humano e pela defesa dos direitos fundamentais dos que não têm voz. Por isso, o Papa Francisco declarou que o dia 8 de Fevereiro passaria a ser o Dia Internacional de Oração e Sensibilização contra o tráfico humano, atendendo à proposta da Irmã Eugenia Bonetti.

 

Informação disponível sobre os autores à data da edição desta obra:

 

“EUGENIA BONETTI é uma religiosa consolatina italiana, missionária no Quénia durante 24 anos e conhecida, atualmente, pela sua ação humanitária a favor das mulheres vítimas do tráfico sexual. Entre 1991 e 2000, trabalhou num centro de escuta e acolhimento da Cáritas de Turim. Desde 2000, tem trabalhado no serviço «Tráfico de Mulheres e de Menores» da União de Superioras Maiores de Itália. Este trabalho foi reconhecido, interna e internacionalmente, tendo ganho vários prémios: em 2004, foi agraciada com o título de Comendadeira da República Italiana; em 2007, recebeu o Prémio Internacional «Mulher de Coragem», concedido pelo Departamento de Estado Norte-Americano; em 2011, o Prémio «Servidor da Paz», concedido pelo Observatório Permanente da Santa Sé junto da ONU; em 2013, o «Prémio do Cidadão Europeu», do Parlamento Europeu; e, em 2014, a Ordem de Mérito da República Italiana. Por proposta da irmã Eugenia Bonetti, o papa Francisco declarou que o dia 8 de fevereiro (Santa Josefina Bakhita) será Dia Internacional de Oração e Sensibilização Contra o Tráfico Humano.

 

ANNA POZZI é jornalista de Mondo e Missione e colabora com vários jornais e revistas, particularmente sobre o tráfico de seres humanos para exploração sexual (com destaque para o tráfico de mulheres nigerianas), sobre cujo tema já publicou alguns livros. O seu empenhamento mantém-na ligada a Eugenia Bonetti no projecto «Mai piu schiave!» (Escravas, nunca mais!), com a qual também publicou Schiave (São Paolo, 2010).”

 

Índice:

Prefácio | Introdução | 1. Dignidade das mulheres: «Homem e a mulher os criou»; Chamada a uma missão; Libertação das mulheres; Libertação do homem; Necessidade de novos profetas | 2. Migrantes e escravas: Povos em movimento; Mulheres migrantes; O dever e a beleza do acolhimento; Mulheres à venda: quem é que ganha?; Protagonistas da sua própria libertação; Responsabilidade e justiça; O desafio de uma sociedade multiétnica; Quebrar os grilhões; O empenho das religiosas | 3. Homenagem às mulheres africanas: «Mãe África»; Jogo de papéis; Cuidar de si; Dignidade no trabalho; A nova mulher; Dignidade para a mulher africana; Um nobel para as mulheres africanas | Conclusão.

 

Público-alvo: Jovem/Adulto

 

Ficha técnica:

Título – Quebrar as cadeias – o combate pela dignidade das mulheres | Prefácio – Ir. Maria Júlia Bacelar| Autores – Irmã Eugenia Bonette, Anna Pozzi| | Paulinas Editora, 1º ed. Junho de 2015, 168 págs. | ISBN: 978-989-673-469-5.

Agostinho Faria

Redator Livros

Licenciado em Comunicação Social e Cultural. Pós-graduado em Ciências da Informação e da Documentação. A viajar no surpreendente mundo novo das Paulinas Multimédia Lisboa.

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