Livro da semana: «A primeira geração incrédula»
Armando Matteo pretende, com o ensaio “a primeira geração incrédula”, efectuar uma análise oportuna sobre a relação entre a Igreja e a juventude enquadrando esta ligação num plano mais vasto, nomeadamente entre os jovens e os adultos na Sociedade Ocidental, com base na realidade italiana em 2010.
O autor começa esta reflexão a partir de questões propedêuticas, tais como: “Porque é que na Igreja se veem sempre menos jovens e desaparecem, ano após ano, os grupos de jovens paroquiais? (…) Por que razão, por um lado, cada vez mais utentes do Facebook, no seu perfil, atribuem a si próprios uma orientação ateia ou agnóstica, enquanto, por outro, estão em contínuo crescimento os sítios web onde se pode «deixar» uma oração, «acender» uma vela, «passar» um momento de paz? (…) Como poderão explicar, ainda frente a tudo isso, os levantamentos sociológicos que confirmam uma notável abertura dos jovens frente à experiência religiosa em geral? (…) Ora, como se colocam, hoje em dia, os crentes, frente a uma tão difícil relação dos jovens com a fé? (…) e como se pode justificar a distância existente entre a verdade dos jovens de hoje em relação à fé e a imagem idealizada que deles tem a comunidade crente?”
Para Matteo, “na sua relação com os jovens, a Igreja sofre a influência da lógica pouco saudável que estrutura as relações intergeracionais na sociedade civil, uma lógica marcada por um falar contínuo dos jovens e dos seus problemas, a que corresponde uma igualmente constante acumulação de privilégios nas mãos dos adultos, perdidos nos seus ritos e nos seus mitos, bem firmes nos seus lugares de poder, incapazes de não só de cuidar do mundo juvenil, mas mais simplesmente ainda, olhá-lo de frente.” (…) [Na sociedade actual a maior parte dos jovens] “não podem escolher o trabalho que querem, porque as únicas regras aceites são as do mercado (ditas pelos adultos); não podem constituir família, porque não há casas (a não ser para os adultos); não podem dar à luz mais do que um filho porque não há creches nem politicas familiares suficientes” (…) “À sombra de um tal destino de marginalização e de condenação ao niilismo, imposto pelos adultos à classe dos jovens, percebe-se então a dificuldade que tem a comunidade eclesial em rever estruturalmente o seu diálogo com as novas gerações.”
Face a este quadro, Armando Matteo desenvolve a sua proposta de análise e aponta soluções em quatro etapas: 1ª Porque é que há cada vez menos jovens na Igreja; 2ª Por que razão os jovens já não vão à missa; 3ª Como é bela a juventude; 4ª Uma fé jovem.
Actualmente, a cultura de base Europeia já não assenta numa matriz religiosa, vive-se uma mudança de paradigma, pelo que o autor afirma que a geração dos jovens entre os vinte e os trinta anos “aprenderam, pura e simplesmente, a arranjar-se sem Deus e sem a Igreja. É este o aspeto inédito do nosso tempo, no Ocidente: já não o contra Deus do ateísmo clássico, mas o sem Deus de quem deixou de ter antenas para Ele. É assim que «Deus desaparece do horizonte dos homens» (Bento XVI). Deixar de ter antenas para Deus e para a Igreja: é esta a condição de muitos contemporâneos.”
As comunidades crentes devem estar atentas a esta realidade se quiserem estabelecer pontes com os jovens. Não é possível continuar a basear a vida cristã numa imagem pouco diferenciada “feita de etapas e verificações precisas, de sacramentos e de compromissos definidos, e uma visão correspondente da Igreja que, depois de preparado o registo, fica disponível como uma «estação de serviço» onde se pode proceder, de vez em quando, à «reparação» da alma.” A realidade mostra-nos que o “modelo cronológico (Batismo, Primeira Comunhão, Crisma, Matrimónio, algumas funções religiosas e funeral)”, não corresponde às actuais necessidades dos jovens. É necessário um outro modelo “de tipo Kairológico” (Kairós, tempo de Deus em oposição ao tempo humano, Chronos; momento oportuno). Hoje, os jovens vivem uma multiplicidade de situações: “crentes, crentes não-praticantes, ateus, ateus anónimos, ateus devotos, agnósticos, buscadores de Deus, indiferentes, homens e mulheres da pertença sem crença, re-principiantes, pessoas pensativas à espera de uma Igreja diferente, e, por fim, a primeira geração incrédula. Assim, há que inventar Kairoi – ocasiões – para todos estes: iniciativas personalizantes, e no fim, contas personalizáveis, às quais cada um possa calibrar a própria relação mais com o rosto de Deus do que com a doutrina, mais com a causa do Reino do que com as questões morais, mais com o sentido da proximidade do que com a ritualidade eclesial. Ocasiões para qualquer um, inclusive o último a chegar ou que chegou em último lugar (na vida, no trabalho, nos seus sonhos), para que também este se aperceba que há lugar para ele.”
Informação sobre o autor:
Nasceu em 1970. É Professor de Teologia na Pontifícia Universidade Urbaniana. De 2005 a 2011 foi assistente nacional da Federação Universitária Católica Italiana (FUCI). Desde 2012, é assistente nacional da Associação Italiana de Professores Católicos (AIMC). Outro livro do mesmo autor editado pelas Paulinas.
Índice:
Abertura – Tiago Freitas | Prólogo | 1. Porque é que há cada vez menos jovens na Igreja: Já não temos antenas para Deus; Primeira geração incrédula; O elo que falta; O coração pós-moderno do Ocidente; A nova ordem conceptual. | 2. Por que razão os jovens já não vão à missa: Terços e missas pelos defuntos; Até que ponto os jovens interessam à Igreja?; «Os jovens já não são os de antigamente»; Por quanto tempo ainda o cântico «Suba deste altar»? | 3. Como é bela a juventude: A magia da juventude; O ressentimento dos adultos; Emergência educativa; «Tu interessas-me»; Ainda há espaço para uma profecia possível? | 4. Uma fé jovem: A novidade cristã; A gramática da fé; É tempo de dieta; Um cristianismo Kairológico; Captar o grito | Epílogo | Agradecimentos | Nota bibliográfica.
Público-alvo: Jovem/Adulto
Ficha técnica: Título – A primeira geração incrédula – a difícil relação entre os jovens e a fé | Autor – Armando Matteo | Editor – Paulinas Editora, 1 ed. Junho 2013, págs.: 136 | ISBN: 978-989-673-314-8.