Silêncio - Entrevista com o Realizador do Filme Martin Scorsese

Livros 14 junho 2017  •  Tempo de Leitura: 8

«Quando Rodrigues, depois da apostasia, pretende justificar-se, dizendo: “Senhor, ressenti-me com o teu silêncio», ouve a resposta de Cristo: «Eu não estava em silêncio. Sofria ao teu lado.”»

 

A obra que apresentamos corresponde à entrevista que Antonio Spadaro realizou ao cineasta, Martin Scorsese, aquando do lançamento do seu mais recente trabalho cinematográfico: “Silence” (Silêncio).

 

Trata-se de um filme baseado no romance homónimo de Shusaku Endo, “Silêncio”, que descreve o encontro e o choque entre duas culturas distantes: a cultura de um Ocidente Cristão e a cultura da Ásia Oriental, bem como as consequências dramáticas daí geradas. Narrando a história da evangelização dos missionários Jesuítas portugueses no Japão e como os cristãos foram vistos como sendo uma ameaça para a cultura Japonesa, que teve como resultado a perseguição ao cristianismo no Japão, nos séculos XVI e XVII.

 

Deparamo-nos também com o conceito de apostasia e de fé, onde esta é vivida de forma pragmática, sendo colocadas questões profundas sobre até que ponto o exercício da fé pode por em causa a vida dos outros.

 

“No cárcere, o missionário ouve o longo estertor dos cristãos submetidos à tortura do anazuri. «Se cederes, aqueles serão imediatamente libertados da tortura, serão soltos, e cuidaremos deles.» O que deve fazer: abandoná-los a uma morte brutal ou ceder e salvá-los? «Ele tinha vindo para esta terra para dar a sua vida por estes homens; na realidade, eram estes cristãos que, uns atrás dos outros, iam morrendo por ele. Como haveria de fazer? Não o sabia.»

 

Deus cala-se: a quem pedir uma resposta?”

 

Consideramos profícua a leitura desta obra, não só como forma de preparação para quem deseje assistir a este extraordinário filme, mas também como sugestão para quem pretenda ler a obra de Endo. Um livro verdadeiramente surpreendente e fascinante que tal como no filme levanta a questão sobre o “silêncio de Deus” perante o sofrimento e a agonia dos que Nele creem, mas também do silêncio da Igreja, enquanto instituição, relativamente àqueles que tinham apostatado.

 

A obra, o “Silêncio” de Shusaku Endo, é um romance que tem como base um fundo histórico, e, segundo Adelino Ascenso (superior geral da Sociedade Missionária da Boa-Nova) trata-se de “um compêndio de teologia em forma de ficção”, em que é atribuída a Cristo uma dimensão “maternal” e compassiva, que acolhe todos os pecadores e que lhes perdoa todos os seus pecados. Um Cristo que é amor e misericórdia e que recebe todos os apóstatas. Toda a envolvência e complexidade desta obra leva à introspeção e à interpretação do “silêncio de Deus”, a saber escutar o próprio silêncio e a interpretar o “silêncio para lá do silêncio”. Este romance revela uma “dimensão de Cristo” que se adapta ao contexto e cultura Japonesa. Neste processo de inculturação é-nos revelado que muitos daqueles que tinham apostatado, no seu coração continuavam a acreditar em Cristo, mas amando-o de uma forma diferente. Apenas tinham colocado de parte a “imagem estereotipada” de um Cristo trazido da Europa, um Cristo juiz, “triunfalista” e majestoso passando a adotar um “Cristo débil”, de rosto sofredor, companheiro do fraco e que sofre ao lado daquele que cai.

 

Antonio Spadaro, ao longo da entrevista com o realizador Martin Scorsese leva-nos também a compreender e a aprofundar o percurso espiritual e artístico do cineasta.

 

Parece-nos pertinente disponibilizar algumas das questões colocadas pelo entrevistador:

 

“Como se lembrou do projeto do Silêncio? Sei que é uma paixão muito sua, que a tinha em mente há já alguns anos…, talvez há vinte ou trinta anos…”

 

“Como foi que atuou em si o desejo de fazer este filme? Tratava-se de uma ideia a realizar no futuro ou o desejo de fazê-lo inspirou de algum modo o seu trabalho destes anos?”

 

“Se bem compreendi, para si, crer em Deus e ser católico são duas coisas diferentes. O que entende por isso?”

 

“Silêncio parece a história de uma descoberta íntima do rosto de Cristo, de um Cristo que parece pedir a Rodrigues que o espezinhe, para salvar outros homens, porque foi por isso que veio ao mundo… Para ele, qual é o rosto de Cristo? É o fumi-e, a imagem espezinhada, como descreve Endo? Ou é o Cristo glorioso da majestade?”

 

Queremos ainda salientar que este livro inclui um ensaio da autoria do padre Ferdinando Castelli, especialista em literatura para “La Civiltà Cattolica” e o posfácio do Padre Adolfo Nicolás (2014), à data, “Propósito Geral da Companhia de Jesus”.

 

Informação disponível sobre o autor à data da edição desta obra:

 

ANTONIO SPADARO (Messina, 1966), padre jesuíta, é diretor de uma das mais influentes revistas italianas, La Civiltà Cattolica, docente na Universidade Pontifícia Gregoriana e consultor do Conselho Pontifício para a Cultura e do Conselho Pontifício para a Comunicação Social.

 

“Martin Charles Scorsese (1942), de pai italiano, nasceu em Nova Iorque. É um premiado cineasta, considerado um dos maiores realizadores cinematográficos de todos os tempos. Em 2007, foi contemplado com o Óscar de Melhor Realizador com o filme The Departed (Entre Inimigos). Algumas das suas obras mais conhecidas: Taxi Driver, Tudo Bons Rapazes, Casino; Gangs de Nova Iorque, O Aviador, O Lobo de Wall Street. O seu mais recente trabalho é Silence (Silêncio), um filme sobre as raízes da fé religiosa, o húmus que sustenta a história de dois missionários jesuítas portugueses em missão no Japão do século XVI.”

 

Índice

Prefácio: Um filme imprescindível, uma conversa extraordinária de António Monda

Silêncio: entrevista com o realizador Martin Scorsese

Silêncio, de Shusaku Endo: um thriller teológico de Pe. Ferdinando Castelli

Posfácio: Viver a missão cristã no Japão de Adolfo Nicolás

 

Público-alvo: Jovem/Adulto

 

Ficha técnica:

Título – “Silêncio -Entrevista com o realizador do filme Martin Scorsese”
Autor - Antonio Spadaro

Editor – Paulinas Editora, 1 ed. Abril 2017, 88 págs.

ISBN: 978-989-673-580-7

Agostinho Faria

Redator Livros

Licenciado em Comunicação Social e Cultural. Pós-graduado em Ciências da Informação e da Documentação. A viajar no surpreendente mundo novo das Paulinas Multimédia Lisboa.

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