Para o papa Francisco, o ecumenismo é uma característica marcante do seu ministério. Essa atenção ecuménica é analisada, comentada e explicada nestas páginas por um seu grande amigo, pastor protestante, Marcelo Figueroa, conhecido desde os tempos de Buenos Aires, alguém que o papa Francisco quis como colunista nas páginas de L’Osservatore Romano, sendo o primeiro protestante na secular história do jornal da Santa Sé.

Marcelo Figueroa é biblista, teólogo e pastor da Igreja Presbiteriana de San Andrés (Buenos Aires), e, por mais de duas décadas, dirigiu a Sociedade Bíblica Argentina. Foi por essa responsabilidade que conheceu o então Arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, que enfrentou o desafio de promover o ecumenismo na sua arquidiocese.

Entretanto, nasceu uma grande amizade com o futuro papa Francisco que, por uma decisão inédita, nomeou Marcelo Figueroa para diretor da edição argentina de L’Osservatore Romano, ou seja, o «jornal do Papa».

Esta amizade com o Papa envolveu também a família  de Marcelo Figueroa, com inclusão da sua esposa, ambos pastores evangélicos, assim como os seus filhos, que conhecem e apreciam o papa Francisco como o seu amigo mais querido e admirado.

Esta é uma amizade que também é uma comunhão de fé que assenta, precisamente, na consistência que cada um deles expressa em relação ao objetivo principal das suas vidas: ser testemunha do Evangelho de Jesus.

Entrevistado por um órgão de informação argentino, Marcelo Figueroa destacou como os seis anos de trabalho para o papa Francisco exigiram, também para ele próprio, «uma peregrinação pessoal, tentando entender, codificar e aprofundar as mudanças, a evolução e as diferentes visões que o Papa teve sobre o termo “ecumenismo”».

Ficha Técnica

Título: As diversidades reconciliadas
Autor: Marcelo Figueroa
Ano de edição ou reimpressão: 2022
Editora: Paulinas
Idioma: Português
Páginas: 312
ISBN: 9789896738488

Prefácio do Papa Francisco

«Recebo com grande alegria esta obra literária que, à primeira vista, mais parece um livro sobre o diálogo inter-religioso, mas na qual se descobre, à medida que a percorre-mos, como que uma peregrinação ecuménica: genuína, pessoal e, sobretudo, espiritual. Gostei da expressão utilizada pelo presbítero Marcelo Figueroa, quando me apresentou o rascunho do seu trabalho: «Saiu-me das entranhas!»

Durante anos, como se vê neste livro, temos qualificado o ecumenismo como ecumenismo do amor, da esperança, da misericórdia, da solidariedade, da paz. Eu próprio utilizei uma expressão forte, tentando despertar as realidades que nos unem a partir das veias abertas de tantos irmãos e do próprio verbo encarnado, sofredor e orante pela unidade (cf. Jo 17,1): «ecumenismo do sangue.» Penso em «ecumenismo das entranhas» como definição capaz de identificar uma forma de compreender a fraternidade humana unida à imagem e semelhança de um Deus que nos amou a todos a partir do seu coração, sob a orientação do seu Espírito, com a carne do seu Filho, e o modo como um pai ama os seus filhos, «a partir das entranhas».

Este livro descreve os diversos portos da minha viagem rumo a um ecumenismo que tenta navegar no mar aberto de toda a Humanidade, dos seus problemas reais, das suas angústias e das suas buscas mais transcendentes. Um ecume nismo que Figueroa insiste em integrar na criação e no cosmo como parte de um ecossistema harmonioso, interligado e interdependente. Isto está muito, muito presente nas minhas encíclicas Laudato si e Fratelli tutti, ambas ecuménicas!

Este trabalho também encerra o bom sabor de uma pessoa instruída no Reino dos Céus, que sabe encontrar tesouros nas coisas novas e nas coisas antigas (cf. Mt 13,52). Conheço, há mais de vinte anos, o presbítero evangélico Marcelo Figueroa. Sou testemunha do seu empenho genuíno no verdadeiro diálogo e no encontro ecuménico, em cujo âmbito temos partilhado uma amizade fraterna muito enriquecedora e até um programa de televisão em Buenos Aires - Biblia, diálogo vigente -, juntamente com o rabino Abraham Skorka.

Não deve passar despercebido que este biblista protestante propõe, no presente volume, uma seleção de cem artigos publicados no L'Osservatore Romano, nos últimos seis anos. Enche-me de alegria que este facto histórico e de verdadeira abertura ecuménica do jornal do Vaticano se tenha produzido durante o meu pontificado! Leio sempre com atenção os artigos de Marcelo e continuarei a lê-los porque me ajudam a olhar o caminho ecuménico já percorrido e ainda por percorrer, com os olhos de um irmão que tenta reler e interpretar o meu pontificado segundo uma ótica ecuménica.

Alegra-me a visão do ecumenismo que este irmão oferece e agrada-me recordar que se trata de um conceito enraizado nos fundamentos do meu pontificado, visto tratar-se de uma forma de tentar ser uma única Igreja fundada em Cristo Senhor e, a partir daí, com cada expressão de Fé; como um caminho que percorremos juntos na oração, nas obras de caridade e no testemunho, sob o olhar de Deus.

Considero parte fundamental do magistério pontifício esta dimensão quotidiana do ecumenismo, que segue a vereda aberta pelo Concílio Vaticano II, a partir do testemunho bíblico apostólico e que foi tão enriquecido pelos meus predecessores com o seu impulso dado ao diálogo e ao empenho ecuménico.

Permito-me recomendar com entusiasmo e acompanhar com a minha bênção este livro, As diversidades reconciliadas. Um protestante no jornal do Papa. Que o Senhor da diversidade reconciliada se sirva dele para iluminar os olhares expectantes, alargar os horizontes espirituais para lá da pertença de fé e abraçar os corações inquietos, ao encontro de um Deus que está com todos e acima de todos numa mesma Casa comum!