Livro da semana: «Qual o teu caminho? Em conversa com os jovens»
Sinopse:
Armando Matteo pretende, através de cartas coligidas nesta obra, incentivar os jovens a refletirem sobre o que é a juventude e propor um itinerário de vida para estes entrarem na idade adulta.
O autor afirma que recorreu à obra “O caminho do homem” de Martin Buber como fonte de inspiração para a elaboração deste livro. Expõe cada tema em textos breves (quatro a cinco páginas). O livro está dividido em duas partes.
A Primeira parte – “O caminho do Jovem” – é constituída por dez etapas que ajudam o jovem a compreender a vida, quer no plano pessoal, quer na sua relação com o outro. O autor começa por definir a juventude como um caminho, “um tempo entre os tempos da vida”, marcado pela energia e pela iniciativa, mas também por inquietações e angústias. Baseia-se no filósofo Paul Ricoeur, quando afirma que "ninguém está no mundo sem malas". Há um legado geracional que se transmite de pais para filhos (origens, amor, trabalho, apelido). Este processo passa também por aceitar esse passado:
"(…) de que somos essencialmente filhos, princípio não absoluto de nós mesmos, origem originada na nossa história de vida; (...) só aquele que aceita ser filho pode, na verdade, tornar-se pai e mãe de si próprio: pode dar início a qualquer coisa que manifeste o seu próprio caracter."
Um dos passos ou características que define a idade adulta é "tornarmo-nos economicamente autónomos”. É neste ponto que entra a dimensão do trabalho, como oportunidade para ser vivido em relação com o outro, como um meio para desenvolver e pôr em prática os dons e as capacidades adquiridas durante o percurso académico. Segundo o autor, somos:
"(…) seres essencialmente incompletos e sempre necessitados de relação com o outro que nos empenhamos no trabalho. É a comunhão primogénita com o outro, com a história presente e com a que ainda está em curso, que dá sentido ao meu trabalho, que só é verdadeiramente meu na medida em que também é trabalho sobre o meu «eu», trabalho em que participa, de modo central, a relação com o outro."
Num outro ponto de reflexão, Armando Matteo, exorta-nos para a necessidade de “cultivar a solidão”. Convida a deixar que a solidão faça parte do percurso dos jovens, porque na vida adulta é essencial. Os “instrumentos de comunicação”, tais como o telemóvel, o facebook, o twitter ou o email permitem à sociedade ocidental estar continuamente ligada. Por vezes, poderá ser difícil no contexto actual permanecer “desconectado”. Habitualmente, o conceito de solidão está associado à noção “de abandono, de doença, a sentimentos de medo, de impotência, de angústia.” Neste livro o autor apresenta uma outra perspectiva:
“Na nossa vida, porém, deveria estar reservado e garantido um espaço bastante grande para a experiência da solidão, para aquele morar consigo mesmo, do qual só pode fluir uma relação intensa com a própria interioridade e com o próprio espírito. (…) é importante travar amizade com a solidão: pequenos passeios nocturnos (…) procurar e encontrar tempos e lugares para rezar (...) e sentir uma nova harmonia entre alma e corpo, desejos e contingências da vida, desilusões e esperanças, feridas e recomeços.”
Na segunda parte – “Honra a tua inteligência” – Armando Matteo fornece, a partir de 8 palavras, uma reflexão apurada sobre o que significa o “estudo” no contexto universitário. O “assombro” é o primeiro vocábulo com que o autor inicia a segunda parte desta reflexão. Funciona como ignição para o resto do livro. Alerta o jovem para a sua pequenez e até inutilidade em relação ao mundo que o rodeia, mas no mundo cada jovem é único e distingue-se de forma singular. Face a este paradoxo, segundo o autor, grandes pensadores já se questionaram: “Porquê o ser e não o nada? (…) Porque existo, se o mundo não precisa de mim?”. A solução passa pela “grande aventura que é o estudo, o conhecimento, a busca, o labor da inteligência, o prazer da descoberta.” Para Armando Matteo:
“A verdadeira densidade do estudo, com efeito, não tem apenas a ver com os livros, os docentes e tudo resto: diz principalmente respeito àquela coisa estranha que chamamos «eu». Aquilo que torna verdadeiramente extraordinário e transbordante de espírito o tempo da aprendizagem é, precisamente, o nosso «eu», ou seja, o nosso desejo de encontrar uma resposta para aquela interrogação insólita que representamos para nós mesmos. (…) Somos uma interrogação dirigida a nós mesmos, é o ponto de partida para tudo o resto.”
Info. Autor:
Nasceu em 1970. É Professor de Teologia na Pontifícia Universidade Urbaniana. De 2005 a 2011 foi assistente nacional da Federação Universitária Católica Italiana (FUCI). Desde 2012, é assistente nacional da Associação Italiana de Professores Católicos (AIMC).
Índice:
Prefácio – Pe. Sérgio Gomes | O caminho do Jovem – Perdoar os Pais; Assumir o próprio eu; Tornar-se mundo; Escutar a morte; Ser de palavra; Exercer autoridade; Cultivar a solidão; Pertencer ao próximo; Gostar de si próprio. | Honra a tua inteligência – Apresentação; Assombro; Busca; Consciência; Inquietude; Paixão; Mistério; Disciplina; Sabedoria.
Público-alvo: Jovem/Adulto
Ficha técnica:
Título – Qual o teu caminho? Em conversa com os jovens | Prefácio – Sérgio Gomes | Autor - Armando Matteo | Editor – Paulinas Editora, 1 ed. Setembro 2014, 104 págs. | ISBN: 978-989-673-400-8.